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quarta-feira, julho 01, 2015

Voo 3756

Ele estava no aeroporto para pegar o voo 3756, na companhia de sua mulher; objetivavam passar as férias em Fortaleza, já durante o check in, descobriram que houve uma confusão e o número da poltrona da sua esposa havia sido trocado, ao menos foi isto o que acharam que tivesse ocorrido:
- Senhor Silva tente entender.
- Entender o quê? - Gritando a plenos pulmões – Que esta empresa é uma espelunca, nós compramos as passagens com muita antecedência, acabamos de fazer o check-in e você está me dizendo que aquela máquina que acabou de emitir os bilhetes está maluca? Que a minha mulher não poderá embarcar comigo nas férias que planejamos? Nunca vi uma loucura como esta, além de tudo a droga do voo foi transferido, me diga como você quer que eu entenda?
- Então senhor Silva, para começar o senhor não comprou estas passagens.
- Como não comprei, é evidente que eu comprei.
- No meu computador está dizendo que o senhor ganhou um concurso de uma marca de margarina com acompanhante.
- Sim, mas...- já baixando o tom de voz gradativamente – ... é a mesma coisa, não é?
- Vamos fazer o seguinte, o senhor vai neste voo e resolveremos o problema da sua esposa em breve.
- Em breve? O que isto quer dizer, ela não vai? Vou só eu?
- Sim. Até no máximo amanhã o mal entendido será resolvido.
Ainda constrangido com a revelação do atendente ele se despede da esposa e diz:
- Pobre é uma desgraça mesmo, um dia meu amor, eu vou poder comprar nossas próprias passagens.
- É claro que vai meu amor, tenho certeza disto.
A esposa de Silva vai para casa esperar a resolução do problema enquanto Silva fica no aeroporto buscando o que fazer para passar o tempo:
- Barra né, amigo?
- Barra o quê? Te conheço?
- Não, você não me conhece, eu sou o Januário.
- Prazer Januário, Raimundo Silva.
-Estava dizendo que é barra aguardar 5 horas no aeroporto por um voo que já devia estar a caminho de Fortaleza.
- Voo 3756?
- Isto mesmo, agora é ter criatividade para não ficar maluco enquanto esperamos, quis economizar olha o que deu.
- Comigo foi diferente, o tal concurso de margarina é que escolheu a empresa.
- Entendo, mas o que houve com você?
- Fiz o check in ...
- Naquela primeira máquina? – aponta Januário.
- Foi, como sabe?
- Eu também fiz lá.
- Certo. – Silva percebe que o bilhete emitido na mão de Januário é o mesmo número da poltrona de sua esposa – Como disse que se chamava?
- Januário.
- Januário o seu número de poltrona é o mesmo que o da minha mulher, como a máquina pode ter emitido o mesmo número de poltrona para você e para a minha mulher?
- Não tenho a menor ideia, a única coisa que sei é que o voo foi transferido.
- Entendi, Januário será que tem alguma forma de resolvermos isto e você me ceder esta passagem?
- Ta falando do que? De dinheiro?
- Não exatamente, na verdade se eu tivesse dinheiro, não estaria nesta enrascada.
- E do que está falando então, lembre-se que as passagens têm os nomes das pessoas, por ela ser mulher ia ser bem difícil de ser identificada.
- Na verdade o bilhete dela diz o mesmo núnero de poltrona, mas infelizmente acabei rasgando ele de raiva.
- É o jeito é esperar, o que você faz para viver?
- Sou dono de uma oficina.
- Quantos funcionários você tem?
- Funcionários? Não, sou só eu mesmo.
- Exército de um homem só?
- Literalmente, curte Engenheiros...?
- Que engenheiros?
- A música “Exército de um homem só” é do Engenheiros do Havaí..
- Na verdade estava citando o livro.
- Livro?
- Sim, aquele do Moacir Scliar.
- Não conheço, não sabia que existia um livro sob este título
- E eu não sabia que existia a música.
- E você trabalha no que?
- Eu sou representante.
- O que você representa? - Uma marca de iogurte.
- Nossa sempre quis trabalhar para uma fábrica de iogurte.
- É mesmo, estamos precisando de representantes.
- Mas infelizmente, sou um péssimo vendedor. O que acha de caminharmos um pouco pelo aeroporto.
- Será, cara? - Não vai querer ficar 5 horas sentado neste banco, né.
- Tem razão, caminhar vai me fazer bem e aonde vamos?


/Continua

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