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terça-feira, maio 30, 2006

O caso do colchão

Como todos os seres humanos normais e urbanos, Fabíola precisou trocar o seu colchão e foi até a loja famosa por dar descontos e ótimas formas de pagamento, a ELOS DOURADOS. Encontrou o vendedor que se chamava Tobias:
- Pois, não.
- Olá, Tobias, não é? (viu em seu crachá)
- Sim, e você?
- Ahn Fabíola, eu vim comprar um colchão.
- Certo, venha comigo. Eu tenho todas as variedades, desde o de molas até os de espuma simples.
- Sim, eu quero este colchão que eu vi no encarte.
- Claro, já vi que a moça tem bom gosto. Este colchão é um dos nossos melhores, infelizmente não temos deste colchão na loja, mas temos no depósito e mandaremos entregar assim que possível. Enquanto isso, quer ver mais alguma coisa.
- Sim, também quero um jogo de quarto.
Depois de muito olhar, conversar consigo mesmo e fazer algumas contas quanto as prestações, Fabíola fechou negócio com Tobias:
- Quando o Senhor manda entregar para mim?
- Acredito que neste sábado deve estar chegando na sua casa.
- Ótimo, que horário?
- Entre 10:00 e 14:00 horas.
Fabíola passou a semana totalmente despreocupada e quando chegou o dia da entrega, esperou em casa, enquanto realizava alguns afazeres domésticos, como não chegava a encomenda no horário marcado, começou a preocupar-se, mas apenas meia hora depois o caminhão de entrega estava na sua casa.
- Senhora Fabíola?
- Apenas Fabíola, por favor.
- A senhora encomendou um jogo de quarto, não foi?
- Exatamente.
Mas para surpresa de Fabíola o colchão não fazia parte da entrega:
- Agora só falta o colchão.
- Bem, Fabíola, não enviaram nenhum colchão para senhora.
- Como é que não.
- Esta é a nossa última entrega, não tem mais nada no caminhão, é melhor a senhora ligar para a loja na segunda-feira.
Fabíola, não se mostrou tão preocupada, quanto a situação exigia e calmamente esperou o momento certo de ligar para o gerente da loja na segunda.
- Elo Dourado, Patrícia, bom dia.
- Bom dia Patrícia, o meu nome é Fabíola, eu estive loja de vocês terça-feira passada e comprei um jogo de quarto, mas na hora da entrega, o meu colchão não veio junto com o restante das mercadorias, gostaria de saber o que houve.
- A senhora lembra o nome do vendedor.
- Não me lembro infelizmente.
- Certo, eu vou passar a senhora para o gerente Marcos.
- Tudo bem.
- Marcos, Bom dia.
- Bom dia, Marcos, o senhor já está a par da minha situação.
- Sim, Dona Fabíola, ocorre que infelizmente, não temos este modelo de colchão no nosso estoque, tivemos um problema com a fábrica, que não entregou em tempo hábil, mas eu prometo para a senhora que tão logo resolvamos o caso, enviaremos o colchão ao seu endereço.
- E isto se resume à quantos dias?
- Ah no máximo até o próximo final de semana.
- Tudo bem, obrigado Marcos, então sábado que vem, o colchão está lá em casa.
- Com toda certeza, pode contar com isso.
Passada uma semana, o colchão não veio e novamente Fabíola se viu obrigada a ligar para a loja, desta vez falando com outro Gerente:
- Tem certeza, Dona Fabíola, ainda não entregaram o colchão para a senhora, mas que absurdo. Eu vou ligar agora mesmo para o estoque e verificar o que está havendo.
- Tudo bem, eu espero a sua ligação.
Logo:
- Dona Fabíola, aconteceu o seguinte o seu colchão é um tipo específico que ainda não temos em estoque, o imbróglio, com a fábrica ainda não foi resolvido.
E isto se perdurou por longos dois meses, com ligações semanais e até diárias, sempre trocando os nomes dos gerentes, mas as respostas sendo sempre as mesmas até que:
- Dona Fabíola, a senhora não acha melhor trocar por outro colchão, nós daremos um vale da loja, caso o valor seja menor.
- Não, não aceito. Eu quero o meu colchão, eu comprei aquele colchão e vocês vão me entregar aquele colchão, e olha minha paciência já se esgotou, meu primeiro cheque já vai cair e eu continuo dormindo no chão, se vocês não resolverem isto esta semana, eu vou na defesa do consumidor e se não resolver, eu vou para a imprensa, estou cansada de ser enrolada por vocês.
- Calma, dona Fabíola, também não é assim, a senhora sabe que temos feito o possível pa...
- O possível, o senhor acha normal que eu tenha que esperar dois meses para receber uma mercadoria, se eu soubesse que a sua loja era desse jeito, jamais teria comprado com vocês, olha que eu susto estes cheques e aí eu quero ver como fica.
- Tudo bem, dona Fabíola, acabei de receber uma boa notícia, o imbróglio com a fábrica foi resolvido e esta tarde, seu colchão será entregue.
- Esta tarde, mas não tem ninguém em casa.
- Alguém não pode receber pela senhora.
- Não, não pode, vocês não podem agendar outro dia.
- Quando a senhora vai poder estar em casa.
- Só no sábado.
- Ih, Dona Fabíola, então só vou poder entregar para a senhora daqui a 15 dias.
- 15 dias, você tá louco, mas 15 dias dormindo no chão, eu devo ter cara de palhaça.
- Veja bem, eu posso entregar para senhora amanhã, mas a senhora não pode receber, ou a senhora pode vir buscar aqui.
- E como é que eu vou carregar este colchão no meu carro.
- É vai ser difícil.
- Tá tudo bem, eu espero os quinze dias.
- Foi um prazer negociar com a senhora.
- Prazer é o cacete, você só faça o favor de entregar meu colchão no dia especificado.

E finalmente depois de longos três meses o colchão encontrou a sua fôrma na cama de Fabíola.

segunda-feira, maio 22, 2006

O Brasil Futebol

E não é que assim mesmo, o único momento em que se tem orgulho de ser brasileiro é durante a Copa do Mundo. O momento em que o Brasil é primeiro mundo; esquece-se das bandalheiras, da corrupção, do domínio sufocante da rede globo, das brigas de casais, da fome, enfim de tudo, às vezes até do trabalho. O país pára para ver a seleção. O IBGE diz que mais 80 milhões de pessoas, passam fome, ou comem muito pouco, quase metade da população, mas se o Brasil ganhar a Copa, pouco importa, pois esta é única alegria deste povo sofrido, O Ronaldinho Gaúcho é o melhor do mundo, ganha mais dinheiro do que a arrecadação de centenas de municípios do Brasil, a Copa do Mundo é apenas um detalhe, se ganhar tudo bem, senão tem outros campeonatos a disputar e mais dinheiro a ganhar, O pobre brasileiro só tem isso, só tem este orgulho de dizer o Brasil é o Melhor do Mundo. Na maioria das vezes, quem não gosta de futebol é porque tem escolha, tem outras formas diversão, tem outros sonhos, outros projetos, outras alegrias, tudo muito palpável. Diante deste quadro, quem teria coragem de dizer com todas as letras, "tenho orgulho de ser brasileiro". se num país continental, cheio de riquezas, não há comida para todos, não há emprego para todos, os políticos, são sempre os mesmos, os cartéis são sempre os mesmos, a dívida externa só aumenta analogamente o déficit público, os portos sucateados, os agricultores endividados, as pequenas empresas fechando por falta de apoio e até as cooperativas que poderiam ser uma salvação, já estão pensando duas vezes em aceitar novos membros, mas o mais importante é que o Brasil pode ser hexa, e a rede Globo vai poder encher os cofres e continuar manipulando a opinião pública, elegendo e destituindo presidentes, manipulando pesquisas e monopolizando o lixo televisivo. Os políticos sempre vem com a mesma conversa os cinco pontos básicos: Educação, Saúde, Segurança, Emprego, Reforma (Agrária, Tributária, Política etc). Quando isso vai sair do papel e começar a afetar a vida dos brasileiros. A único contato que o estado mantém com o pobre é através da polícia, nem sempre tão amistoso quanto deveria. Nesse mês mágico da Copa, todos ficam em estado de êxtase, hipnotizados, fora da realidade, uma fuga, uma merecida fuga da enxurrada de problemas que a todos perseguem durante quatro anos.

terça-feira, maio 16, 2006

Vazio e Cheio

Há uma diferença enorme entre o vazio e o cheio, mas não significa que o cheio signifique tudo de bom, exemplos: um estádio de futebol vazio é horrível, cheio é ótimo, principalmente para os cartolas, um presídio vazio é ótimo para os carcereiros, mas dá um trabalho para a polícia, pois se os presídios estão vazios as ruas estão cheias de bandidos, o bombeiro odeia atender uma emergência que está cheia de curiosos que não ajudam em nada e atrapalham até os próprios transeuntes e os bombeiros mal conseguem dar os primeiros socorros as vítimas. Já um banco pode estar vazio e ao mesmo tempo cheio, ou seja vazio de pessoas e cheio de dinheiro. E o coração, mesmo cheio pode não estar legal, se estiver cheio de amor de paz e alegria, muito bem, mas pode estar cheio de ódio, rancor e amargura, vazio ele pode sentir uma solidão, mas também estará completamente livre de preocupações. Alguns acham que o vazio é uma grande oportunidade para se encher, como no conto da Marilda "flagrante1" em que o estacionamento estava vazio e de repente ficou cheio por causa de uma inusitada motoqueira ruiva que se transformou diante dos olhos atônitos dos motoboys numa linda cinderela de sapato e tudo, o dono do estacionamento deve ter transbordado de alegria. O vazio também pode ser uma vantagem. Se vc estiver de bolso vazio, não será incomodado por parentes que adoram pedir empréstimos para nunca pagar, ou fará coisas simples que não precisem de dinheiro, como passar mais tempo com filhos e com as pessoas que vc gosta, vendo tv ou jogando baralho, não aconteceria se estivesse de bolso cheio, porque aí o céu seria o limite e o tempo para as pessoas que se ama se escassearia. Não fique cheio da vida, nem deixe ela ficar cheia de vazios......

quarta-feira, maio 10, 2006

Livros, livros e mais livros

Ultimamente tenho lido pouco, estou no meio de um livro chamado "as aventuras de Tom Sawyer" do Mark Twain, este livro conta as perípécias de um menino encapetado, não para quieto sempre cheio de idéias para travessuras com a ajuda de seu amigo Huckleberry Finn, Tom Sawyer foi retratado no cinema em "The League of Extraordinary Gentlemen's onde era retratado como um agente secreto americano, apesar de toda a sagacidade do garoto, uma coisa que não poderia ter se tornado era agente secreto, mas enfim, ficção é ficção. Outra coisa curiosa é sobre o rapaz da minissérie Lost que também se chama Sawyer, mas é apenas um apelido roubado de um bandido que assassinou os seus pais, aí a conspurcação é maior ainda, pois Tom Sawyer era travesso, mas muito longe de ser bandido, ás vezes as pessoas não têm o mínimo respeito ao fazer alusão a personagens. Mas voltando aos livros, a pouco tempo li "O guia do mochileiro das galáxias", o filme havia me chamado atenção, mas por um detalhe ou outro não tinha conseguido ver, aí a minha esposa me comprou o livro no dia do meu aniversáio, então eu o li e depois vi o filme, o filme deixou muito a desejar, recriaram a história ao modo hollywoodiano, só faltava o novo planeta se chamar Estados Unidos. O livro muito explicativo conta a história, de um cara mais ou menos que tem um amigo alienígena, mas não sabe disso, só fica sabendo após a destruição da Terra para a construção de uma auto estrada espacial, o livro lida com muitas questões como o sentido da vida e o Gerador de Improbabilidade Infinita, vale a pena ler. Não percam em breve, mais comentários sobre livros.

sexta-feira, maio 05, 2006

O Negócio É Amar

Camila conheceu Jorge numa danceteria. Ele era jovem, radiante e dançarino, tinha apenas um pequeno defeito, imperceptível na época, era alcoólatra. “Ora, mas todos os jovens bebem”, pensou Camila. Começaram a namorar, aliás era só o que faziam. Ele trabalhava como pedreiro, ela era diarista. Estudar? Que estudar, cara? Estudar é coisa de velho e castigo de criança mal criada. O importante é ter uma profissão e Jorge tinha: pedreiro. Camila também: doméstica. Depois de muito namorarem, acabaram se estranhando. Aconteceu o famoso “arranca-rabo” como dizem na periferia. Camila disse: “Jorge, nunca mais”. O mesmo discurso ouvia-se de Jorge: “Camila, nunca mais”. Perguntavam-se os parentes o que teria ocorrido. As fofoqueiras de plantão diziam que Jorge era muito preguiçoso, não parava em emprego algum e gastava todo o dinheiro que ganhava em bebida, por outro lado Camila gostava muito de dinheiro e Jorge não tinha o suficiente para bancá-la. Mas o tempo é o senhor da razão e, inexplicavelmente, algum tempo depois de separados, Camila e Jorge voltaram a namorar e desta vez era prá valer, casaram-se e tiveram duas filhas ruivas. Os pais de Jorge ofereceram os fundos do terreno para que o mesmo construísse a sua casa e assim foi feito. Camila parou de trabalhar. Jorge continuou a viver desregradamente a única diferença é que não saía para as danceterias, ele sustentava a família com pequenos serviços, nunca respeitou patrões e nem horários, por isto não parava em serviço algum, o problema com o alcoolismo foi ficando mais grave, mas ao contrário do que se imaginava ele jamais foi violento, ele chegou a procurar ajuda se internou por duas vezes em instituições para alcoólatras e cada vez que isto ocorria era uma esperança para Camila, mas a abstinência era apenas por algum tempo, quase vinte anos se passaram desde o casamento e um dia Camila cansou de toda a incapacidade de Jorge. Voltou a trabalhar e ajudada por sua mãe começou a criar as filhas sozinha, acionou Jorge na justiça, mas ele fez o favor de ficar desempregado, só para não pagar a pensão. Todos acreditavam em Camila ela voltou a estudar e se mostrou interessada em subir na vida, quem podia ajudar financeiramente sempre ajudava, mas ela voltou a freqüentar a noite e a trazer vários namorados para casa, perdeu o respeito de todos e as ajudas financeiras também. A mãe de Jorge vendeu a casa dele para um parente que acionou Camila para que desocupasse a casa. Camila arrumou um advogado, mas ele pouco pode fazer. Camila estava ameaçada de despejo. E como “desgraça pouca é bobagem”, ela engravidou de um de seus namorados. Qual deles? Só com D.N.A., caro leitor. Ela acusou um que não assumiu, depois acusou outro e outro e por fim resolveu tomar um chá que uma amiga receitou e abortou. E a vida continua, não tão certa como a gente imagina, mas como diz aquela canção “... mas não interessa o negócio é amar”.


Ao final desta crônica o leitor poderia perguntar: “Mas que canção, cara pálida?” Prá quem não sabe, a canção é de “Jô e Tuco” e o nome dela é “O negócio é amar” se você ainda não ouviu esta música, vá ouvir! Ou tá me achando com cara de rádio.

Vidas Conectadas

Joana acorda atrasada como sempre, em desespero, escova os dentes muito rapidamente, passa uma escova no cabelo, veste a calça que teima em não entrar, mas deita-se na cama e com muito custo consegue fechá-la, deixando o quadril a ponto de estourar. O telefone toca:
- Alô.
- Joana, você ainda está em casa, esqueceu a reunião?
- Não, Selma, eu apenas acordei atrasada, ontem a noite foi comprida.
- É eu acredito, mas é melhor você vir logo, eu já estou sem desculpas para justificar a sua ausência.
- Não se preocupe estarei aí em alguns minutos.
Selma e Joana se conheceram na Faculdade de Administração; eram amigas há tanto tempo que, às vezes, nem se lembravam de que haviam passado a infância e quase toda a adolescência separadas, mas a vida pacata das duas estava para mudar, neste mesmo dia, na reunião da manhã, elas conheceriam Sandra e Portia, as mulheres que tornariam o dia das duas muito comprido.
- Bom dia pessoal, desculpe o atraso.
Todos ficam em silêncio, menos Selma:
- Bom dia, Joana.
Sandra começa uma explanação a respeito da próxima estratégia de marketing da empresa, apesar da idéia ser muito boa, a prolixidade da oradora deixa todos com sono.
Mais tarde no escritório da Selma:
- Ei Joana, o que há com você, será que nunca vai parar de se atrasar?
- Ué, virou minha chefa agora.
- Não é nada disso, é que essa nova gerente de marketing, está no meu pé e eu acho que será uma questão de tempo para ela também estar no seu.
- Você está falando da Sandra?
- É a Sandra e a sua assistente a Portia.
- Mas o que foi que eu perdi? Quando saímos ontem para ir embora, estas duas não estavam aqui.
- Nem me fale o Gerente geral conheceu essas meninas num happy hour a dois quilômetros daqui.
- Nossa nunca ouvi falar de recrutamento em bar.
- Eu não duvido de mais nada.
- Por outro lado, esta Sandra parece ter uma boa formação.
- É acho que ela entende do assunto.
No escritório do Diretor Geral:
- Sandra, você realmente confia que isto vai dar certo?
- É claro, senhor Almeida, esta estratégia já deu certo em muitas empresas da Europa, apesar de os consumidores terem hábitos diferentes dos europeus, algumas pequenas adaptações farão com que o plano funcione.
- Tudo bem, vou te dar um voto de confiança.
Portia não era dessas mulheres que falam muito, principalmente se não entendesse do assunto, mas quando dominava o tema, ninguém a segurava:
- Sandra, não acha que essas diretoras estão pouco receptivas a nós?
- Percebeu também, né?
- Que tal se a gente tentasse uma aproximação?
- Como?
- Poderíamos convidá-las para jantar.
- É, não é má idéia.
Algum tempo depois:
- Jantar, hoje, não sei, é tão inesperado.
- Já tem compromisso, Selma?
- Não, não é isso, só estou surpresa, mas eu vou sim, vou falar com a Joana, ver o que ela acha, mas provavelmente iremos sim.
Logo:
- O que será que elas estão tramando Selma? Jantar assim sem mais nem menos.
- Não vejo nada de mais. Apenas querem se enturmar.
- Tudo bem, eu vou, mas escreva isto em, elas estão armando alguma.
- Deixa de ser tão desconfiada amiga, foi praticamente assim que nos conhecemos, em uma saída da turma de administração.
Tudo combinado, elas vão a um restaurante italiano comer uma massa:
- Portia de onde você é? - Pergunta Selma.
- Meus pais eram da Austrália, nunca soube o motivo de terem saído de lá, mas eu sou Fluminense de Nova Friburgo e você Selma, de onde é?
- Eu sou de Curitiba.
- Você não parece ser de lá, as pessoas são muito fechadas nesta cidade.
- É eu sei, tive que aprender a me libertar da timidez, sabe como é no nosso ramo não há espaço para acanhamentos. E você Sandra de onde é?
- Eu sou de Campina Grande na Paraíba.
- Ué, e cadê o seu sotaque?
- Depois de anos vivendo em São Paulo é difícil manter as origens, agora só falta a Joana.
- Eu sou Gaúcha de Cruz Alta, é uma região bem fria do Sul do Rio Grande do Sul, algumas vezes vou pra lá, tenho umas tias que são freiras e que moram lá.
Selma comenta:
- Nossa tem gente de todo canto nesta cidade de São Paulo, daqui a algum tempo não haverá mais paulistanos em suas ruas.
- Tem razão.
- Eu tenho uma dúvida. - diz Joana - É verdade que vocês foram recrutadas num happy hour?
- É verdade sim. - Responde Portia - Eu estava com Sandra tomando um coquetel e comentando sobre as propagandas do prêmio profissionais do ano e comentando sobre as possíveis modificações que seriam mais eficientes para a venda do produto. E nisso apareceu o Almeida que quis participar da conversa, como éramos apenas free-lancers, vimos uma oportunidade de crescer profissionalmente no momento em que o Almeida ofereceu-nos o serviço.
- Puxa, ainda estou perplexa, é tão estranho como as coisas acontecem na nossa vida, se vocês não tivessem ido ao bar, não estaríamos hoje aqui conversando.
- É verdade, mas acho que foi pura sorte.
As meninas saem sorridentes do restaurante por se conhecerem melhor quando acontece algo inesperado. Uma van pára em frente ao restaurante e diante dos olhos perplexos dos transeuntes, as quatro mulheres são jogadas pra dentro da van e levados para um local desconhecido, amordaçadas e amarradas e também com capuzes, ficam incapazes de dizer para onde estão sendo levadas. Mas conseguem ouvir a seguinte conversa:
- Tem certeza que as donas são essas?
- Claro que sim, olha aqui as fotos, são elas mesmas, agora vamos para o local combinado.
Chegando ao local, as quatro são colocadas no chão, ouvem alguém falar em japonês algo incompreensível, depois um dos capuzes é arrancado é o de Portia:
- Não deve estar se lembrando de mim Portia.
- E deveria? Quem é você?
- Eu sou Oruo Matsumora.
- Fiquei na mesma.
- Claro talvez você não se lembre, mas com certeza seu pai se lembrará e isto é o que importa.
- O que você tem com o meu pai?
- O seu pai me deve dinheiro senhorita Portia e eu sou um homem de negócios, não posso deixar que me logrem, não sabe o quanto foi difícil achar vocês, desde que saíram da Austrália foram mais de trinta anos procurando este caloteiro.
- Hum, meu pai deve dinheiro pra você e de quanto estamos falando?
- 6 milhões de dólares.
- Tudo bem o problema é comigo, porque elas estão aqui?
- Em parte por estarem com você, mas a verdade é que sem vocês quatro a empresa Carvalhaes não funcionará.
- E daí?
- Parece que o seu pai não conversa muito com você, não é? E daí que o sócio do seu pai, o Carvalhaes, o ajudará a pagar o seqüestro entendeu agora?
- Sim, mas porque você ainda está conversando comigo e não ligou pro meu pai, para resolver logo este negócio?
- Farei isto, não se preocupe.
Muito choro e ranger de dentes depois, o Senhor Matsumora liga para o seu devedor Alfredo, ele atende ao telefone nervoso:
- Alô.
- Senhor Alfredo, há quanto tempo.
- Quem fala?
- Tem certeza que não sabe Alfredo, duvido que a minha voz tenha mudado tanto.
- Oruo, como conseguiu este telefone?
- Não importa cara, eu estou com alguém que é muito importante para você.
- É mesmo e quem seria?
- A sua querida filha.
No cativeiro:
- Portia, quem é essa gente? - Indaga Selma.
- Sei lá, parece coisa do meu pai, nem sabia que ele tinha sociedade com o senhor Carvalhaes.
- Talvez isto explique o recrutamento no bar.
- Sim, mas o mais interessante é que não vejo o meu pai há quase 15 anos, não tenho certeza se ele virá para nos salvar.
- Portia, ele precisa vir, eu preciso tomar algumas providências para organizar a festa de final de ano da empresa, e amanhã eu tenho uma viagem marcada com o meu namorado. Diz Joana.
- Supondo que você sobreviva Joana, acho que terá tempo de resolver isto mais tarde.
Oruo ainda conversa com Alfredo:
- Como vou saber que está com ela?
- Aguarde um minuto.
- Alô pai, por onde andou nos últimos quinze anos?
- Pelo que eu saiba, você é que fugiu de casa.
- Tudo bem, mas não precisava ter mudado, sem avisar ninguém, não é?
- Chega de papo. - diz o seqüestrador. - A duas horas da manhã em frente ao Masp, leve os seis milhões.
- Oruo, seja razoável, onde vou arrumar 6 milhões de dólares, em quatro horas, parece que é doido.
- Fale com o seu amigo Carvalhaes, acho que ele saberá o que fazer; não se atrase!
Alfredo está perdido, não sabe se liga pra polícia, para o amigo Carvalhaes, ou se assalta um banco, em apenas quatro horas, não há mais tempo, a decisão precisa ser tomada e resolve ligar para o Carvalhaes.
No cativeiro:
- Sandra o que você está fazendo? - Pergunta Joana.
- Bem, pode ser uma surpresa para você já que não me conhece direito, mas eu aprendi a desfazer nós de corda com um professor de Kung Fu que tive na minha adolescência. - Diz isso e mostra as mãos livres em sinal de triunfo. Logo todas estão livres:
- E agora qual é o plano? - pergunta Selma à Portia.
- E eu sei lá. Nunca fui seqüestrada.
Joana se manifesta:
- Como eu gosto muito de filmes de ação, tenho uma solução hollywoodiana. Sandra e Selma, ficam de um lado da porta, eu e Portia ficamos do outro, quando o seqüestrador vier pulamos em cima dele e o desarmamos.
- Só para registro, não me parece uma boa idéia. - Diz Sandra.
Joana responde:
- Tem uma idéia melhor?
- Não.
- Então preparem-se, vem vindo gente aí.
Alfredo liga para o Carvalhaes:
- Alo amigo estou numa enrascada.
- É eu sei, seqüestraram a alta diretoria da minha empresa e entre elas a sua filha.
- Como sabe disso?
- O tal de Oruo diz que conhece você lá da Austrália.
- Bem, já que está a par da situação, me responde você tem como conseguir 6 milhões de dólares?
- Não, é impossível, não que não tenha o dinheiro, mas o problema é o horário.
- E o que vamos fazer?
- Ainda não sei, mas precisamos de uma solução rápida.
- Devíamos chamar a polícia.
- Com certeza, mas arriscaríamos a vida de todas elas.
O seqüestrador abre a porta e uma avalanche de cabelos, unhadas e dentadas caem sobre ele deixando-o impotente, Sandra se apodera da arma e rende o seqüestrador. Elas saem com muito cuidado vem mais um bandido que tenta atirar nelas, elas se jogam no chão e Sandra surpreendentemente atira na mão de bandido e arranca a arma de sua mão. Ambos rendidos são amarrados e trancados no antigo cativeiro das meninas.
Enquanto isso, no MASP, no local marcado:
- Trouxe o meu dinheiro Alfredo?
- Onde estão as meninas? - Pergunta Carvalhaes.
- Ah, você também quis se juntar a nós, Carvalhaes, elas estão num lugar seguro, quando eu tiver o dinheiro, eu as libertarei.
O telefone celular de Oruo toca:
- Com licença, senhores; logo terminaremos o nosso negócio. Alô.
- Senhor Oruo, elas escaparam.
- Certo.
- O senhor não me entendeu?
- É claro que sim, não se preocupe, estou numa reunião importante, daqui a pouco conversamos sobre isso e tentaremos achar uma solução. Sayonara.
- Esse japonês! Só pode ser maluco.
Quatro mulheres correndo de madrugada no bairro Vergueiro, encontram um táxi abrem a porta entram esbaforidas acordando o motorista que diz:
- Pelo amor de Deus, eu tenho quatro filhos para criar, não me mate, pode levar o dinheiro.
Elas ficam confusas e o motorista aponta para a arma e elas sorriem:
- Não moço, não viemos assaltá-lo não, só queremos sair daqui.
- Orra meu, graças a Deus. E para onde vocês querem ir?
Cada uma diz o seu endereço e são entregues seguras em casa e o pagamento é feito por Portia, elas chegam a se recusar, mas Portia diz:
- Não fossem por mim, não teriam sido seqüestradas, é o mínimo que posso fazer.
Na Avenida Paulista:
- Sem essa de lugar seguro, sem elas, não tem acordo, adeus.
- Tudo bem, só um minuto.
Oruo faz uma ligação diz:
- Coloque elas na linha.
- Como chefe, elas fugiram.
- Faça o que eu estou dizendo, coloque elas na linha.
- Ah chefe agora entendi, são aqueles códigos, já vou colocá-las.
Oruo passa o telefone para Alfredo, ele ouve uma bagunça, uma gritaria de pedidos de socorro de vozes femininas e logo ouve Portia dizer:
"- Pague ele pai, se não ele nos matará."
- Chega. - Diz Oruo - Cadê o dinheiro?
- Está nesta maleta.
No momento em que é passado a maleta, surgem as quatro mulheres andando lado a lado indo em direção ao MASP. Oruo fica perplexo:
- Como vieram parar aqui?
- Como assim, elas não estavam com você? - Responde Carvalhaes.
As mulheres agora estão correndo agora, cada qual vai para um ponto cardeal e vão fechando o cerco em cima da quadrilha que agora é formada por quatro homens, imediatamente Oruo corre para o carro enquanto os outros três começam, a atirar, Portia se joga no chão e tenta se proteger atrás de uma lata de lixo, Sandra dá dois mortais enquanto as balas vão passando do seu lado, então ela chega perto do atirador chuta a sua arma dá um golpe no seu pescoço que com isso desmaia instantaneamente. Oruo já dentro do carro dá ordens para que o motorista arranque, o motorista obedece, enquanto ainda embasbacados Carvalhaes e Alfredo ficam deitados no chão, incapazes de se levantar por conta do tiroteio promovido pelos capangas de Oruo.
- O que está acontecendo, Carvalhaes, onde estas mulheres aprenderam a lutar assim, eu jamais imaginei que a minha filha Portia fosse tão destemida.
- Acho que depois teremos uma explicação, se conseguirmos sobreviver a esta chuva de balas.
Selma e Joana saltam sobre os atiradores e ao aterrissarem tiram as armas deles e Portia derruba os dois com golpes certeiros de caratê e os rendem, a polícia aparece e leva os três bandidos para a cadeia, depois chegam ao cativeiro e encontram os outros seqüestradores amarrados dentro do quarto onde foram deixados pelas meninas.
Alfredo ainda sem entender tenta conversar com Portia:
- Minha filha, há quanto tempo. - Diz isso e a abraça.
- Pai, que bom revê-lo.
- Quando aprendeu caratê?
- Quando fui trabalhar na interpol.
- Você trabalha na interpol?
- Sim, eu e as meninas, há muito tempo que estamos atrás da quadrilha do Oruo, tive que trabalhar disfarçadas de executiva na empresa do Carvalhaes, eu não sabia que outras agentes haviam sido designadas para o mesmo serviço, a coincidência maior foi quando fomos seqüestradas juntas, e mais interessante ainda eu não sabia nem que a Sandra era agente mesmo tendo uma amizade de anos com ela, tudo lá é muito sigiloso, depois que fomos pra casa, cada uma de nós veio atrás da quadrilha e nos encontramos novamente no meio do caminho e aí descobrimos a operação, uma pena que você tenha pagado o resgate.
- Não é bem assim.
No carro, Oruo examina o dinheiro e descobre que foi enganado, as notas de dentro eram papéis e as de fora apenas fotocópias de notas de cem dólares.
De volta a Avenida Paulista:
- Você diz que estava atrás da quadrilha do Oruo há muito tempo, mas ele fugiu.
- Bem, agora a surpresa é minha, ele não fugiu, o motorista dele trabalha para nós e ele o está levando para a delegacia mais próxima, ele está acabado.
- Foi por isso que você sumiu Portia.
- Foi pai, para que você não corresse riscos.
Oruo ainda decepcionado com a sua própria ingenuidade, de repente se vê cercado de policiais e não entende como isto ocorreu.
Pela manhã, em um café da região:
- Quem diria, Joana, você uma agente da interpol.
- Eu também jamais imaginaria isto de você Selma.
- É estamos todas surpresas, umas com as outras, mas agora temos que fazer relatórios aos nossos superiores.- Diz Portia.
- Será que nos encontraremos de novo? - Pergunta Joana.
- É difícil saber. - Responde Selma - Podemos ser designadas para missões em diferentes países, no todo, a gente trabalhou muito bem juntas, gostaria muito que repetíssemos a experiência uma hora dessas.
Todas se dão as mãos e encerram por hora a aventura das quatro agentes.

Guarda-chuva

Bem, é tudo tão simples que nem sei se vale a pena ser contado, por outro lado é muito engraçado, eu sempre seguia o mesmo caminho para o trabalho, saía detrás do Mueller, passava pelo Passeio Público, cruzava o círculo militar até chegar na rua em que trabalhava que se chama Dr. Faivre. Um dia, como outro qualquer, eu caminhava pelo Passeio Público, como de costume, não sei se na ida ou se na volta, não me lembro mais, sei que andava e um amigo avistou-me e venho ao meu encontro, havia uma mulher que sempre ficava por ali, é claro que eu sabia o que ela fazia, afinal uma mulher conhece a outra só de olhar, mas foi também pela constância no local que imaginei a sua ocupação, mas nunca dei bola para ela até aquele momento, quando meu amigo foi chegando mais perto ela, mulher, abriu os braços para ele, ele passou por ela e veio me abraçar, no meio do nosso abraço senti uma cacetada na cabeça, a mulher havia me dado uma guarda-chuvada, nem sei se esta palavra existe, mas não sei dizer de outro jeito, depois ela me disse que eu estava roubando o ponto dela, eu falei que estava indo trabalhar e que ele era meu amigo, ela disse eu também trabalho aqui e proíbo você de passar neste ponto e roubar os meus fregueses, saímos dali meu amigo e eu e a partir daí não passei mais pelo Passeio Público. É... tá tudo ficando de um jeito que a gente não pode nem abraçar um amigo sem ser mal interpretada.

Diferenças


Homenagem a Marilda Confortin

Elas são vaidosas. Antes do encontro, tomam banho, se perfumam, hidratam o cabelo ou até mesmo vão ao cabeleireiro enfrentar horas de escova, chapinhas e papel alumínio; conversam muito e anotam os segredos de beleza da colegas, escolhem a cor do esmalte, mas não antes de tirar a cutícula, importante não esquecer de combinar o esmalte com a roupa. Aliás, a roupa. O que vestir? Há uma roupa para cada ocasião, para a noite, para o dia, para o namorado novo, o de duas semanas, para o noivo, para o suposto jantar de negócios e até para a conquista de um novo namorado. E deita-se o guarda-roupa na cama e apesar das dezenas de vestidos, calças e camisetas, nenhuma parece cair bem. Mas a salvação alcança a quem tem fé, uma amiga chega na hora da indecisão e resolve o problema em minutos, afinal uma verdadeira amiga, entende a aflição da outra. Esta amiga volta a sua casa e trás a roupa tão procurada. Ela põe a roupa e se sente realizada, mas ainda faltam os sapatos; parece fácil, afinal é só combinar as cores, hum...não é bem assim, os sapatos também tem ocasião para se usar, sapatos discretos, de salto alto, tamancos, sandálias, mais com a amiga para aprovar, tudo fica mais fácil e ela sai vitoriosa para o seu encontro.
Eles nem tanto. Dez minutos antes do encontro botam um tênis, uma camiseta, uma calça jeans sem pensar muito se está bonito ou não, passam um desodorante, afinal, mulheres não gostam de homens fedorentos. Olham no espelho, o cabelo parece bom, chega o amigo e algumas palavras são trocadas.
- E aí?
- Como é que vai?
- Encontro?
- Pois é?
- Então volto outra hora.
- Falou!
Ela com toda a produção chega ao restaurante e ele já está lá sentado, ela o cumprimenta com um beijo no rosto:
- Como você demorou! – comenta ele.
- É que minha amiga chegou na hora que eu estava saindo. Há quanto tempo está aqui.
- Uns quinze minutos.
Ele nem nota a produção dela e ela pensa:
"- Estes homens, só falta agora pedir para dividir a conta."

Hugo de Souza Vieira

O início é sempre difícil

Como o título do blog diz, eu sou um homem da capital, deveria escrever muito mais do que escrevo, mas as responsabilidades do dia-a-dia, me fazem deixar isto em segundo plano. Uma vez publiquei um livro, foi em 2000, por conta disso, conheci e reconheci a minha própria espécie, a dos escritores. É um pessoal que vive nas sombras, eu mesmo não os conheceria, não fosse o arrojo da publicação do livro. Se apresentam em bares, publicam com leis de incentivo, ou bancam do próprio bolso o tão amado e doído parto do livro de contos, prosa ou verso. A vida de escritor é uma realidade dura, longe do glamour dos grandes vendedores de livros, sempre precisam ganhar a vida com empregos paralelos, não há tempo para a dedicação a sua arte. Mas os aplausos, os autógrafos e o comentário sobre o seu próprio livro é muito gratificante. Quero dizer a vocês que vou tentar abastecer este blog na medida do possível com textos interessantes sobre todos os assuntos, Bem vindos ao meu blog e um bom divertimento