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sábado, dezembro 23, 2006

Origens

Eu nasci em 12 de dezembro de 1225, tenho hoje 776 anos, durante este período fiz algumas anotações sobre a minha vida. Na verdade, as feiticeiras são como as pessoas comuns, mas com duas diferenças fundamentais: vivem dez vezes mais que os humanos e são onipotentes em relação à matéria e aos sonhos. Parece complicado, mas não é, vejam só: Com 06 anos participei do meu primeiro “sabat”, havia cerca de 5000 feiticeiros, bruxos, magos etc. Eles se reuniam sempre que houvessem problemas a serem resolvidos pelo conselho. Naquele momento o problema tinha nome, era a inquisição. Esta havia sido instituída pelo Pontífice Gregório IX, um tribunal eclesiástico para infligir penas aos hereges, eles tinham maneiras questionáveis de determinar quem era bruxo ou não. Eu, na minha inocência, não conseguia definir, que importância isto teria na minha vida, estava mais preocupada em comer doces, como era de praxe em todos os “sabats”.
Havia uma história que acabei decorando com o tempo, de como surgiram os primeiros feiticeiros; eles surgiram na pré-história, quando o homem ainda não era civilizado, numa família de 12 irmãos entre meninos e meninas, nesta única família houve uma mutação de genes fazendo com que todos os movimentos do corpo e pensamentos tivessem funções diferenciadas além de uma atividade elétrica superior a todos seres humanos, como ocorreu esta mutação? Alguns anos antes, um vulcão (já extinto na época dos doze) teria fundido grande quantidade de urânio no subsolo desta caverna, os pais desses meninos não sofreram mutação, mas eles sim. A princípio não sabiam de seus poderes e como era comum o casamento entre irmão, tornaram-se feiticeiros puros e perpetuaram a espécie.
Não pense, caro leitor, que eu soube disso já de primeira, pois apesar desta história ter sido contada todas as vezes que nos reuníamos, ela sempre me deu sono, mais tarde uma de minhas colegas me contou a história toda. O melhor de tudo é que não precisávamos ir à escola, pelo menos a dos humanos, íamos a escola de feiticeiros e assim aprendíamos a ludibriar qualquer forasteiro curioso. Esta da inquisição foi bastante peculiar, pois todos os queimados acusados de bruxaria, não eram culpados, ninguém da nossa aldeia foi condenado, como disse anteriormente, eles usavam métodos questionáveis.
Meus pais eram ingleses, mas já eram idosos quando nasci, eles me contavam as proezas de um tal Jesus de Nazaré. Meu pai tinha 900 anos e minha mãe 880 quando nasci, quando eles faleceram, eu tinha apenas 30 anos, então fui morar com os meus tios.
Puxa, mas que cabeça a minha em? Eu nem sequer disse o meu nome. Me chamo Sara, Meu pai chamava-se Thomas e minha mãe Margareth, somos do clã Luxkiev. Eles se conheceram em Jerusalém em 140 D.C. Eles iam lá com freqüência, pois os “sabats” começaram lá, depois mudaram-se para o Reino Unido, onde são feitos até hoje, um ano em cada país do mesmo.Por enquanto só vou contar a origem dos meus, com o tempo contarei todas as aventuras e enrascadas que me meti por ser bruxa, aguardem.

domingo, dezembro 17, 2006

O Quadro

Alfredo trabalhava num Museu de vigia, adorava uma pintura que era de um tal Juvenal Alísio. Sempre a reverenciava, a pintura ficava na sala principal do Museu, ela se chamava “Mulher em Conchas”, era um nu artístico. Um dia Alfredo foi trabalhar como de costume e fez a reverência à pintura, mas para a sua surpresa só havia o contorno da mulher ele ficou desesperado, pois não era um roubo, a não ser que quadro tivesse sido trocado, mas reconheceu a moldura, era a mesma, chegou a pensar em comunicar o roubo, mas logo desistiu, pois a garota da tela apareceu, mas não na tela e sim a sua frente:
- Onde é que eu estou?
- No Museu Aureliano.
- Como vim para aqui, eu me lembro de estar num estúdio e depois apareci aqui, onde estão minhas roupas?
- Eu não sei, eu trabalho aqui há dois anos, por coincidência desde que chegou esta pintura, aliás, você parece muito com a mulher do quadro, sempre amei esta pintura e sempre quis conhecer a mulher que foi pintada, foi você.
- Quadro, foi, mas ele acabou de ser pintado.
- Não foi pintado há dois anos pelo Juvenal Alísio.
- Eu me lembro dele, foi ele que me convenceu a posar para ele, pode parecer estranho, mas pode me arrumar umas roupas.
- Vou tentar, mas como é o seu nome?
- Eu me chamo Patrícia Baderna.
- Eu já volto Patrícia.
Logo, o vigia traz uma farda para ela se vestir:
- Você tem família?
- Sim, tenho uma irmã, a Sílvia.
- Me dê o telefone que vou chamá-la.
Mais tarde:
- Alô, Você é a Sílvia?
- Sim.
- Eu sou do Museu Aureliano, eu acho que tenho uma notícia estranha para você.
- O que houve?
- Você tem uma irmã chamada Patrícia?
Depois no Museu:
- Meu Deus Patrícia onde você esteve nos últimos dois anos?
- Dois anos, mas eu acabei de posar para o Juvenal Alísio e depois apareci aqui, não estou entendendo.
No dia seguinte no Jornal da Manhã duas manchetes de primeira página:
“Mulher desaparecida há dois anos, aparece misteriosamente” e “Obra-Prima de Juvenal Alísio é trocada por tela com contorno, Polícia não tem Pistas”. Juvenal lendo o Jornal corre para a casa de Patrícia e toca a campainha:
- O que aconteceu comigo Juvenal, como eu perdi dois anos da minha vida?
- Vou tentar explicar, mas não sei se vou conseguir é uma surpresa para mim também, pouco antes de chamar você para posar para mim, encontrei um sujeito na rua que me chamou pelo nome, estava bem vestido, se chamava Ruy Grey e sem mais nem menos começou a dizer o que aconteceria nos dois anos seguintes e disse para eu usar esta tinta especial que eu ficaria famoso no país todo e seria considerado o melhor dos pintores, mas apenas por dois anos, quando o encanto acabaria, no início não dei bola, mas não pude resistir à tentação de usar a tinta, então conheci você e pintei você com aquele nu artístico, mas quando terminei você havia sumido, achei que tinha ido embora, mas logo que liguei para a sua irmã percebi que havia algo errado, todos estavam te procurando, mas você sumiu da face da terra e por dois anos todos caíram aos meus pés, então quando você reapareceu me lembrei do Ruy e formulei minha própria teoria, para mim a sua essência ficou aprisionada no quadro e só foi liberada, agora, dois anos depois.
- E você sabe por quê?
- Ruy Grey me disse que ao cabo de dois anos o amor mudaria toda a minha história de vida, acho que alguém se apaixonou por você e isto quebrou o encanto.
Logo depois, Patrícia liga para o Museu:
- O Alfredo, por favor?
- Ele não trabalha mais aqui, senhora, o quadro que foi trocado, ocorreu no horário dele, ele foi responsabilizado e foi mandado embora por justa causa.
- Sei, mas tem algum lugar ou telefone onde eu possa encontrá-lo.
- Infelizmente não tem. Na verdade nem sei se ele se chamava Alfredo, ele dizia que era apelido, mas nunca tive curiosidade de perguntar o nome verdadeiro dele.
- Você me dá o telefone da empresa que o contratou?
- Sim.
Depois:
- Oi, o meu nome é Patrícia, eu queria saber do Alfredo que trabalhava no Museu Aureliano.
- Ah sim, o Ruy Grey.
- Ruy Grey?
- Sim, era o nome verdadeiro dele.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

ISTO UM DIA AINDA VAI TE MATAR

- Que mania é esta, menino. Isto um dia ainda vai te matar!
Minha avó me dizia isto quando eu tinha 6 anos, hoje não tenho como tirar a razão dela, afinal estou morto, exatamente como ela previra, mas não é destas mortes que todos passam, a minha morte foi pura falta de cuidado e hoje tenho que explicar porque não tomei mais cuidado e aí vem o sujeito para ouvir a minha história;
- Como vai, eu sou o secretário do Gabriel e me chamo Mallalel.
- Todos vocês têm este sufixo no nome.
- Agora que mencionou, realmente, acho que sim, pelo menos todos os que conheci, como deve saber a estação é muito grande, mas vamos ao que interessa, você morreu brincando com uma corda, é isto.
- Sim.
- Pode me explicar como um homem de quarenta anos ainda brincava com uma corda como se tivesse cinco.
- Bem, Mallalel, na verdade não sei explicar direito, era uma mania, uma brincadeira que sempre deu certo.
- Ah é, e como era a brincadeira.
- Eu amarrava uma corda abaixo dos meus ombros bem apertado e pulava de uma cadeira, eu sempre coloquei um colchões na frente para que ao pular eu não corresse o risco de me machucar.
- Entendo, muita gente avisou a você que era uma brincadeira perigosa, não é?
- Sim, mas como toda criança, eu não dava bola, sempre achei que era um excesso de zelo e que nunca me aconteceria nada.
- Mas e depois de adulto, como isto não passou.
- Não sei dizer, parecia que assim eu desafiaria a morte, sei lá.
- Tudo bem, acho que já tenho o suficiente.
- Suficiente.
- Sim, para o meu relatório final, daqui a pouco virá o Metrael falar com você sobre os detalhes da sua morte.
- Legal.
- Até logo.
Mais tarde:
- Você é o Getúlio, certo?
- Sim.
- Eu sou o Metrael e sem mais delongas, me conte todos os detalhes do seu passamento.
- Bem, para resumir a história, fui brincar como de costume com a minha corda, amarrei-a abaixo dos meus ombros e quando fui pular da cadeira, a cadeira caiu, como foi inesperado, a corda escorregou e se fechou no meu pescoço e agora estamos aqui conversando.
- Muito bem, mas não sei como qualificar isto, foi um acidente, mas não sei se o conselho vai entender assim, pois foi você mesmo que armou a sua morte o que caracterizaria um suicídio, mas amanhã terá o seu veredicto.
Nos corredores da estação:
- Getúlio meu neto querido, quando você chegou?
- A cerca de dois dias, porque a senhora ainda está aqui, já morreu há anos.
- Então Getúlio, a estação é o último estágio até o paraíso, digamos que é o último degrau do purgatório, estou muito próxima da salvação, mas e você? Como você morreu?
- Do jeito que a senhora falou que seria.
- Não me diga que morreu com aquela corda?
- Então eu não direi.
- Brincadeira, em menino, mas você já foi julgado?
- Ainda não, parece que a audiência é amanhã.
- Não se preocupe, vou estar lá para te dar força.
- Obrigado vovó, acho que vou precisar de toda a força possível.
No dia seguinte:
- Todos em pé para receber o excelentíssimo senhor Tiago, representando o verbo encarnado.
Todos se levantam e Tiago diz:
- Podem se sentar, o que temos aqui, Mallalel?
- Meritíssimo, o caso é o seguinte, a morte de Getúlio, suicídio ou acidente.
- Sei, eu já estudei o caso analisei as provas, agora só preciso ouvir os advogados.
A advogada de defesa Maria Mãe de Deus se pronuncia:
- Meritíssimo e todos os presentes, quero reiterar que o meu cliente não premeditou a própria morte, já que apesar de estar sempre brincando com ela, nunca quis tirar o própria vida e a maior das provas, são os planos que fez, segundos antes do ocorrido, passo a cópia aos senhores, aí está um planejamento do que faria até o final do ano, então senhores creio que se trata de um caso simples e que devemos nos preocupar com algo mais importante do que isto.
O representante das trevas, Baal se pronuncia:
- Eu nunca vi tamanha negligência com a própria vida, coisa que lhe foi dada por dádiva de Deus, os senhores membros do Júri, não podem deixar este caso ficar impune, um homem que nunca valorizou a própria vida desde criança quando era avisado por sua avó, aqui presente entre nós, que isto ainda o mataria; e alheio a tudo isto continuou com a brincadeira, se me permitem dizer, maldita, até que culminou na sua morte por asfixia, então senhores acho que está muito claro como devem decidir.
Tiago se pronuncia:
- Agora já poderemos tomar a decisão, os anjos e os representantes das trevas se reunirão na sala secreta e dentro de meia hora teremos a decisão.
Meia hora mais tarde:
- Senhores membros do júri chegaram a um veredicto?
O representante do júri diz:
- Ficamos num impasse:
- Sendo assim, a decisão ficará a meu cargo. Senhor Getúlio levante-se por favor - cumprida a ordem - como deve saber a situação é muito difícil, tanto que estamos todos divididos aqui na estação, então vou levar em conta o que realizou na sua breve vida. Hum vejamos, plantou árvores, foi um político corrupto, mas se arrependeu e devolveu o dinheiro que havia roubado e quatro vezes mais aos lesados, interessante, foi um péssimo marido, um péssimo pai, mas sempre ajudou a comunidade nas obras da sua igreja, era temente a Deus, mas era viciado em sexo. Ah, mas aqui está, na noite de sua morte, estava indo para casa com um guarda chuva, estava chovendo forte e viu uma velhinha se molhando, deu o seu guarda chuva a senhora e foi se molhando para casa, ótimo. Você está absolvido do crime de suicídio, mas terá de cumprir 20 anos no primeiro degrau do purgatório, lá perto do fogo, mas com a certeza de ser salvo. Caso encerrado.
Getúlio sai se sentindo estranho, não sabe se realmente ganhou, já que terá de sofrer por vinte anos, sua avó o encontra:
- Getúlio, meu neto querido.
- Oi, vovó, você veio me ver.
- É claro que sim.
- O que achou do julgamento?
- Podia ter sido melhor, mas que é melhor do que ir pro inferno, lá isto é.
- Quem será que era aquela velhinha, ela me salvou a vida, quero dizer a morte, ora, eu sei lá...
Na saída do julgamento, Tiago conversa com Maria a Mãe de Deus:
- Como você consegue isto.
- O que?
- Fazer com que se compadeçam, mesmo perto de morrer.
- Todos merecem uma última chance, fiz o que devia fazer e ele também, por isto se salvou.
- Tem razão.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Vida de Tímido

Tantas oportunidades havia perdido que desta vez Geraldo prometeu que não passaria mais um dia sem se declarar a Fernanda. Todos os dias ele a encontrava na mesma banca, comprando o mesmo jornal que ele sequer lia, ia apenas encontrar o objeto de sua paixão, não sabia nem o nome do jornal mas adianto ao leitor que se chamava "A Vitória". Neste dia Fernanda estava particularmente bonita. Geraldo estava com o discurso pronto, repassou mentalmente:
"- Fernanda, há muito tempo tenho observado você vir a esta banca e comprar o jornal, todos os meus dias só iniciam quando a luz do seu olhar penetra as minhas pupilas e me brinda com a sua beleza escultural. Fernanda, gostaria de tornar a minha vida mais iluminada sendo minha namorada?"
Fernanda aproxima-se e vai logo dizendo:
- Geraldo, sempre informado, em? Sabe, o dia que eu não encontrá-lo aqui, vou achar que o mundo deve estar próximo do seu final, porque posso até acertar o relógio pelo horário que você chega, olha só, agora são 8:15 da manhã.
Estas palavras desconcertaram Geraldo, o fez esquecer da declaração e quando Fernanda já havia se despedido; Geraldo a chama e diz:
- Fernanda, quer namorar comigo?
Estupefacta, Fernanda responde:
- Puxa, Geraldo, mas que coisa inesperada. Por que você não me pediu isto há três meses atrás, agora estou namorando o Fábio. (longo suspiro) É uma pena, mas não posso.
Geraldo infinitamente diminuído por sua timidez e por ter perdido a oportunidade diz:
- Ora, Fernanda, é brincadeira, eu estava te zoando, imagina a gente não ia nem combinar esquece, até amanhã.
- Até, nunca vi alguém brincar com uma coisa desta. - diz isto ao jornaleiro.
- Ah, Fernanda, não liga pro Geraldo não, ele sempre foi meio esquisito mesmo.
Geraldo caminha para casa, pensando em todas as chances que havia desperdiçado em sua vida, desde o colégio, quando aquele Marcos respondeu a pergunta sobre o primeiro homem que ficou em pé, ele sabia que era o Pitecantropo Erectus, mas o Marcos falou antes dele ou aquela vez em que marcou o encontro com a Patrícia naquele show e dormiu até a tarde do dia seguinte, tinha trabalhado demais naquele dia e achou que iria tirar só um cochilo, como pode alguém viver uma vida assim e perder tantas oportunidades, sempre chegando em segundo. Resolveu ir a um psicólogo antes que enlouquecesse. Naquela mesma tarde conseguiu uma consulta com o Doutor Lucas:
- Doutor, eu sou um fracasso, nada na minha vida dá certo, toda vez que tenho que fazer algo; acabo adiando e fazendo em momento inoportunos, já perdi empregos, mulheres, oportunidades de negócios e me sinto muito infeliz por isto, como posso sair desta minha timidez crônica.
- Bem, Geraldo, acho que me procurar já foi uma coisa boa, quando resolveu me procurar, veio direto aqui, ou adiou esta decisão também.
- Não vim direto aqui.
- Então, nem tudo está perdido, se consegue tomar uma decisão tão radical rapidamente, pode mudar a sua vida também.
- Como?
- Pelo que me contou, o seu problema é a falta de confiança, a dúvida e o medo do fracasso, mas você já tem tantos deles para se orgulhar, agora está na hora de vencer. Vamos fazer um teste, agora são 4:00 da tarde, ainda hoje você vai fazer algo interessante para mudar a sua vida e vamos definir isto nesta sala. Diga-me algo que sempre quis fazer e nunca teve coragem.
- Bem, isto é fácil, há tanta coisa que não tive coragem de fazer na vida.
- Então diga uma?
- Eu gostaria de dar uns murros no meu chefe.
- Peraí, temos que reforçar o seu lado positivo, não é nada bom para você e tampouco para mim que você fique desempregado, isto podemos trabalhar mais tarde, diga outra coisa.
- Tenho um cunhado que adora ir lá em casa buscar comidas que faltam na casa dele, eu preciso dar um basta nisso, mas tenho medo de brigar com a minha irmã e ele também é grande tenho medo de apanhar dele.
- Então, está decidido, hoje você vai dar um basta neste abuso do seu cunhado, seja criativo e evite violência. Esta é a sua missão.
Mais tarde na casa de Geraldo:
- E aí cunhadão, tudo bem??
- Tudo bem coisa nenhuma, eu estou cansado deste seu abuso para com a minha pessoa.
- Huummm!! “Para com a minha pessoa”.
- Não se faça de besta, Fábio.
- Onde adquiriu toda esta coragem Geraldo? - Diz isto, abre a geladeira e pega um pedaço de salsicha e o morde.
- Prometi a mim mesmo que ninguém mais iria pisar em mim.
- Ah ta, já sei, você ficou sabendo, não foi?
- Do que?
- Agora é você que está se fazendo de bobo.
- Não estou não.
- Você soube que me separei da sua irmã, não soube?
- Hum, é mesmo? E quando foi isto?
- Há uns três meses.
- E você teve a cara de pau de vir na minha casa me chamar de cunhadão e roubar a minha comida, durante todo este tempo? – Enquanto Geraldo fala, Fábio esta comendo um pão.
- Bem,. enquanto você não descobrisse funcionaria, mas não se preocupe eu já arrumei uma namorada.
- Ah é, e como ela se chama?
- Fernanda.
- Fernanda, pe-pe-pera lá, não é a Fernanda da banca de jornal, é? Então, você era o Fábio de quem ela falava?
- Acho que sim. Ela vai todos os dias a uma banca de Jornal comprar um exemplar de “A Vitória”.
Depois no consultório do psicólogo:
- Doutor o senhor não acredita, lembra do meu cunhado?
- Você conseguiu cumprir sua missão?
- Não exatamente.
- O que quer dizer?
- Bem, eu acho que ele não vai mais freqüentar a minha casa, mas isto não resolveu o meu problema com ele.
- Ué, por que, não? Não era o fato de ele ir à sua casa e pegar as suas coisas que te incomodava.
- Era, mas agora além de ele ter deixado a minha irmã, ela está namorando a minha namorada.
- Sua namorada? Ela o está traindo com o seu cunhado?
- Não doutor, na verdade, era para ela ter sido a minha namorada, mas ele chegou antes, lembra que eu te contei da timidez e tudo mais.
- Ah, já entendi. Bem, você tem duas escolhas, seguir a sua vida ou resolver esta situação.
- Não sei se resolvi, mas dei muitos socos nele.
- Se sente melhor por isto?
- Muito melhor.
- Consegue deixar isto pra lá?
- Ainda não sei.
- Veja, você progrediu, de alguém que não resolvia as coisas, teve duas atitudes de uma pessoa comum, veio ao psicólogo sem pestanejar e perdeu a cabeça em relação a um quase parente. São atitudes normais de indivíduos que se sentem acuados.
- Não sei se isto ficou claro para mim.
- Vamos estudar mais a situação. Você gaguejou ao conversar com ele?
- Não.
- Teve dificuldade em falar o que pensava?
- Não.
- Agiu sem pensar nas conseqüências de seus atos?
- Sim.
- Então você está curado. Só precisa agora dosar a sua ira para quem a mereça. Entenda que com isto não estou dizendo que você deve sair por aí, distribuindo porradas para todos, apenas deve saber discernir o momento de agir com mais veemência e momento de deixar pra lá.
- Obrigado Doutor se soubesse que seria tão rápido teria vindo antes.
- Ora, disponha e se tiver dúvidas retorne, ninguém vai achar que você é maluco.
- Certo, até logo.
Geraldo vai embora. O telefone da secretária toca, ela atenda:
- Pois não, doutor.
- Pode mandar entrar o próximo doido.
- Farei isto senhor.
Caminhando na rua Geraldo encontra ninguém menos que Fernanda:
- Oi Geraldo, nossa você não foi na banca hoje, o mundo deve estar próximo do seu final.
- Acho que sim, Fernanda.
Ele a agarra e lhe dá um beijo de cinema no meio da rua, depois vai embora seguindo seu caminho, deixando Fernanda surpresa e desconcertada.

terça-feira, novembro 07, 2006

Política e Politicagem

De repente toda a cidade parou para ouvir os candidatos, a rede local tinha preparado o debate, seria sexta-feira à noite, às 10:00, era novamente um caso de reeleição contra o candidato oposicionista. Então na hora marcada todos os bares estavam lotados e muitos estavam em casa defronte à televisão, alguns até haviam feito churrasco para chamar os compadres e assistir ao grande duelo, os nomes eram bastante curiosos, o candidato à reeleição intitulava-se Divino Espírito Santo e o oposicionista Teobaldo Estrada de Ferro. Então vamos ao debate:
- Bem, amigos telespectadores, como toda a cidade esperava estamos hoje diante de nossos candidatos a prefeito da cidade de Padroeiro Sebastião para ouvir e analisar as propostas de cada um deles e definirmos o futuro da nossa querida cidade, ficamos agora com as regras do debate.
E o narrador diz com toda a presteza quais são as regras:
- Cada candidato terá direito a uma pergunta por bloco num total de quatro blocos, serão 30 segundos para as perguntas, 2 minutos para as respostas um minuto para réplica e mais um minuto para a tréplica, todas as regras foram exaustivamente estudadas e aceitas pelas duas coligações, os primeiros dois blocos serão de perguntas feitas por sorteio do mediador, o terceiro bloco será de perguntas de tema livre e o último bloco será para as considerações finais, somente serão concedidos direitos de respostas se houverem ofensas morais ao candidato adversário.
Volta o mediador, o conhecido apresentador Simão Delgado:
- Bem, e sem demora vamos ao início do debate, vamos sortear agora quem fará a primeira pergunta. - mexe no globo retira um papel, abre-o - e o primeiro candidato a perguntar será Teobaldo Estrada de Ferro será sobre o tema - remexe no segundo globo - Educação. Candidato o senhor tem 30 segundos.
Teobaldo diz:
- Candidato Divino, eu tenho notado que o povo da nossa cidade está afogado numa maré crônica de analfabetismo, chegando ao cúmulo de assinar os cadernos fiados nos bares com os polegares, qual é a sua proposta caso reeleito para erradicar este câncer da nossa querida cidade.
Mediador - Candidato Divino 2 minutos para a resposta.
- Obviamente o meu adversário está com a razão quando diz que o analfabetismo é um câncer da nossa sociedade, a minha proposta é muito simples: TV Escola; nossa cidade é rural, todos trabalham no cabo da enxada desde que se conhecem por gente, a única forma de oportunidade de estudo é através da TV, prometo que abrirei uma televisão estatal que vai ensinar todos da cidade a ler e a escrever através de telecursos que se passarão entre as 20:00h e às 22:00h de segunda a sexta-feira, me cobrem depois, eu afirmo que farei isto.
Mediador: - A réplica para o candidato Teobaldo, um minuto.
- Como todos podem notar o discurso permanece o mesmo, como já havia prometido na eleição anterior, ele promete uma TV Escola que nunca saiu do papel, enquanto a proposta sequer é aprovada na câmara municipal, ele vem com esta bravata de que todos sairão do analfabetismo quando na verdade, volto a insistir, temos gente assinando livro de bar com o polegar, é este tipo de atenção que vocês querem?
Mediador - Tréplica Candidato Divino, um minuto.
- O candidato da oposição, questiona a minha capacidade, mas sequer apresenta uma proposta para solucionar a questão da educação, o fato de não ter sido aprovado na câmara, não significa que eu não tenha trabalhado para que este projeto funcionasse, a idéia está lá é só uma questão de tempo, não acreditem em promessas vazias, acreditem no Divino.
Mediador - Agora o candidato que fará a segunda pergunta é o Candidato Divino Espírito Santo o tema é - remexe no segundo globo - Saneamento Básico. Candidato 30 segundos.
- Candidato Teobaldo, eu gostaria de saber que tipo de proposta o senhor tem para resolvermos de vez as questões relacionadas ao saneamento básico?
Mediador - Candidato Teobaldo 2 minutos.
- Antes de responder a pergunta quero dizer ao Candidato Divino que as minhas propostas para a Educação estão no meu site: www.umanovapadroeiro.com.br e se ele não estiver muito ocupado pode dar uma olhada e quem sabe aprender como se dirige uma cidade, mas quanto à pergunta do meu adversário, só há um jeito de resolver isto, manilhas, manilhas e mais manilhas, não tolerarei esgotos a céu aberto no meu governo vou lançar a campanha "AR LIMPO E MANILHA, É A SAÚDE QUE SE CRIA", o meu adversário vive dizendo que não tem dinheiro para manilhar toda a cidade e pasmem senhores, existem apenas algumas ruas, será que ele realmente está administrando direito o dinheiro do povo? Semestre passado, ele aprovou um aumento para ele e toda a câmara de vereadores, como que para isto tinha dinheiro, responda prefeito licenciado.
Mediador - Um minuto para a réplica.
- O meu adversário está desesperado mesmo, ele traz a tona um assunto já superado, este aumento que propus, não foi para os vereadores especificamente, vou explicar, existe uma verba de representação na qual os vereadores recebem para auxiliar os moradores dos seus bairros nas pequenas coisas, como as associações de bairros que são ajudadas quando precisam se reunir para fazer mutirões. Exemplo clássico: semana passada várias casas foram destelhadas e não precisamos pedir ajuda da defesa civil, porque a verba de representação dos vereadores foi utilizada para comprar as telhas que precisavam ser trocadas depois do vendaval.
Mediador - Um minuto para tréplica.
- Mais uma vez o prefeito licenciado tenta confundir o eleitor, eu tenho fontes fidedignas comprovando que: quem doou o dinheiro para comprar as telhas foi o seo Joaquim dono do material de construções da cidade que, coincidência ou não, é cabo eleitoral do candidato Divino, portanto não confiem nesse Divino, pois ele não honra o nome que carrega.
Terminado o Primeiro Bloco voltamos depois do intervalo comercial.
Na casa do Seo Martins:
- Como esses candidatos se atacam.
- Pois é, mas o bom é que falam em propostas, uai. Não é pra isso que tamo em frente a TV.
- É craro, Seo Martins, a gente é anarfabeto, mas num é burro, temo que orvi os homi, pra vê que vantage a Maria vai levar na horta, ora.
- E retornam os candidatos para mais uma rodada de perguntas e respostas, neste bloco as perguntas são sorteadas e será iniciado com a pergunta que será feita pelo candidato Teobaldo sobre – mexe no globo – Infra-estrutura. Candidato Teobaldo 30 segundos para a pergunta:
- Candidato Divino, bem sabemos que a nossa cidade vive um caos estrutural, justamente por depender quase que em sua totalidade do governo do estado, qual é a sua proposta para um desenvolvimento sustentável da nossa Padroeiro.
Mediador – Dois minutos para a resposta.
- Eleitores da minha cidade, tenho a honra de anunciar que acabei de fechar um contrato com a Hidrovia Solimões que transportará toda a safra de arroz e algodão que são nossas agriculturas mais proeminentes, reduzindo com isto os custos do pequeno agricultor no saldo financeiro final, já que a hidrovia será paga pela prefeitura, também tenho a honra de informar que toda a nossa cidade terá um desenvolvimento estrondoso porque no próximo mês nossa cidade será o cenário principal de um filme hollywoodiano sobre o Brasil, aumentando com isto a atividade turística e conseqüentemente criando o desenvolvimento sustentável citado pelo candidato de oposição.
Neste momento, ouve-se em toda a cidade uma comemoração como nunca vista antes. Este filme intitulado “Nos confins do Brasil” ou em inglês “Last Way” parecia estar muito fora da realidade da cidade, mas o prefeito de Padroeiro Sebastião ofereceu tantas regalias aos gringos que eles se sentiram como deuses e resolveram aceitar a hospitalidade da cidade do interior. Depois do anúncio o candidato oposicionista se preparava para a réplica quando o estúdio de televisão é invadido por um homem armado, outros quatro encapuzados rendem o mediador e levam os dois candidatos juntamente com o mediador para uma pick-up sob os olhos atônitos de toda a equipe técnica e é claro dos telespectadores, já que o seqüestro foi filmado com riqueza de detalhes pelos câmeras do programa. A polícia foi mobilizada, afinal o poder da cidade estava em poder de bandidos perigosos. A pick-up para no meio do caminho, os reféns são retirados e:
- Quem, em nome de Deus, faria uma coisa dessas? – Pergunta o atual prefeito.
Ouve-se uma voz no fundo:
- Corta.
Um burburinho:
- Até que enfim.
- Não agüentava mais.
- Que cena difícil.
Muita movimentação e alguém vem em direção ao prefeito:
- É, acho que a sua cidade serve.
- Serve para quê?
- Para o filme, ora. Ah, queira me desculpar – limpa as mãos nas calças e – Simon de Dubois (Lê-se Saimon Deboá).
- Simon, por que este circo todo na minha cidade?
- Eu queria ver se vocês têm a reação que se espera de um filme hollywoodiano.
- Entendo.
A polícia chega:
- Todo mundo parado!
Duas viaturas, quatro policiais:
- Vocês estão presos pelo seqüestro do prefeito! Levantem as mãos.
O prefeito informa:
- Podem abaixar as armas, rapazes! Foi apenas um mal entendido; estes são os tais de Hollywood.
Tudo explicado, as filmagens começaram e as eleições ficaram em segundo plano, mas para que ninguém morra de curiosidade, Divino Espírito Santo venceu o pleito e saiu em carreata para comemorar, cena esta aproveitada para o filme e a vida segue na pequena Padroeiro Sebastião.

terça-feira, outubro 24, 2006

Eleições

Sou apartidário, não sou PT, não sou PSDB, não sou PMDB, tampouco PFL, ou qualquer outra sigla partidária existente nesse país, escolho meus candidatos pelas propostas, perfil pessoal e profissional e algumas vezes analiso também a experiência. Infelizmente os nossos políticos tornam a eleição um circo, onde um bando de palhaços sem noção nenhuma do que é administração pública se aglomeram em frente às câmeras e entopem as ruas com seus carros alegóricos e sendo incapazes de apresentar propostas viáveis para o crescimento da sociedade. Dando nome as bois, o candidato Geraldo Alckmin parece ter um mundo particular no qual apenas os seus pensamentos e projetos estão corretos, projetos estes que sequer é capaz de transformar em palavras inteligíveis, já que seu maior discurso é dizer que vai acabar com a corrupção no maior estilo Odorico Paraguassu; com Osmar dias, candidato ao Governo do Paraná, é necessário quase um microscópio para tentar entender qual o objetivo da sua plataforma de governo que também inclui algumas excrescências contra o seu arqui-rival Roberto Requião, este que para quem não se lembra trabalhou com o Osmar dias e inventou um suposto Ferreirinha jagunço do norte do Paraná que teria feito alguns serviços de caráter questionável para o falecido José Carlos Martinez. Ridículo. Requião que não é santo, apresentou um dossiê contra o vice de Osmar, Derli Donin, segundo Requião, é uma certidão positiva de processos impetrados contra o vice de Osmar, podridão total. Na hora do debate, aí a coisa fica feia, troca de acusações, algumas vezes, ofensas pessoais e discursos prontos que fazem o eleitor perder a esperança de acreditar em um grande líder para o governo ou para presidência. Falando do Geraldo novamente, ele insiste em falar de sanguesugas (que iniciou no governo Fernando Henrique), mensaleiros (Que, não se enganem, também foi idéia do Fernando Henrique) e um suposto dossiê falso. Olha isto a imprensa já explorou a exaustão, as propostas são inócuas; e uma insistência irritante de que com ele vai ser diferente, mas ele não diz como, fala que vai melhorar a saúde que a saúde está um caos, mas sequer se lembre de dizer que o CPMF é um imposto que deveria ser para a saúde, mas nem isto ele promete acertar, não responde as perguntas, desvia todos e quaisquer assuntos para os problemas com a corrupção numa ignorância sem fim. O Lula é um ótimo orador, não foge de perguntas e nem dos temas, mas insiste na história de não saber o que estava acontecendo, longe de ser um santo, pelo menos tem experiência, mas os "companheiros" são muito sujos e ainda estão sob a mesma sigla o que o torna uma incógnita em relação ao próximo governo, será que ele saberá escolher deta vez ou vai tomar chapéu de novo e vão roubar embaixo no seu nariz, importante ressaltar que todos esses ladrões que nos enojam, estão nos partidos considerados grandes tanto do governo quanto da oposição, o considerado partido dos mensaleiros "PFL" tem a maior bancada do Congresso Nacional, o que num sistema democrático torna a figura do presidente quase decorativa, porque mesmo que tenha boa vontade, suas porpostas não serão aprovadas no congresso. Voltando a falar do Estado, o horário eleitoral está uma nojeira, com direitos de respostas direto por ofensas pessoais e profissionais, com os candidatos inventando dados e fatos que prejudicam a índole e a imagem um do outro e propostas que é bom nada. Um dos maiores problemas do Estado que sempre é explorado nos horários políticos, mas nunca resolvido é a absorção dos jovens no mercado de trabalho, eles sempre trazem propostas mirabolantes que não funcionam e logo depois abandonam e espera-se quatro anos para voltarem a carga com as mesmas caras de pau e mesmas propostas sem sentido. Assim fica difícil. O mais complicado é imaginar que Osmar que é político há anos parece desconhecer o cargo de governador, mesmo seu irmão tendo tido um mandato, Roberto Requião foi surpreendentemente bem neste último mandato, mas infelizmente ele não consegue negociar, manda manifestantes enfiarem as faixas no rabo, diz que com alguns funcionários ele vai ter que tratar no pau, chama policiais de criação, obviamente ele tem um problema social muito grande e infelizmente temos que escolher entre esses dois candidatos, porque os bons administradores não querem ser políticos e quem trabalha para o povo não quer fazer parte do governo, até quando esta falta de opção?

sexta-feira, outubro 20, 2006

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço

Um rico empresário estava diante de uma situação difícil, sua empresa estava com muitas dívidas e o futuro da mesma dependia da assinatura de um contrato com investidores internacionais, acontece que os canadenses declinaram da proposta, deixando Viriato de cabelo em pé, diante desta situação chamou seu melhor empregado para tentar resolver a situação e contata a secretária pelo telefone:
- Vitória, diga ao Flávio para vir aqui.
- Imediatamente senhor.
Logo, o telefone toca novamente:
- Diga Vitória.
- O Flávio está aqui senhor.
- Mande-o entrar.
- Flávio, meu melhor mediador de contratos, como vai?
- Algum problema, senhor Viriato?
- Todos Flávio, a nossa empresa estava toda centrada nesse contrato com os canadenses, eu não sei mais o que fazer, eles não querem mais negociar com a gente.
- Não querem mais negociar com o senhor?
- É parece que sim, só você pode me tirar dessa.
- Bem, senhor Viriato pra falar a verdade, eu não posso não.
- Ué, como assim?
- É que eu vim aqui para dizer para o senhor que eu estou indo trabalhar com eles.
- Com eles? Com os canadenses?
- Sim.
- Mas eles me passaram a perna, vão levar o meu melhor negociador, quanto te ofereceram?
- Senhor Viriato, não torne isto mais difícil.
- Quanto? Eu cubro qualquer oferta.
- Como o senhor vai cobrir qualquer oferta, a empresa está quebrando o senhor não irá conseguir me segurar.
- Diga quanto? Para você eu pago dos meus bens pessoais se for necessário.
- Na verdade me ofereceram 10 milhões de dólares por ano.
- Dez milhões, mas isto é um absurdo.
- Eu sei, já que o senhor me pagava cem mil. Então, eu vim para me despedir do senhor, foi um prazer trabalhar para a sua empresa.
Viriato totalmente desconcertado deseja boa sorte ao sortudo rapaz e não consegue ver uma saída viável para manter o grande império. Quando está indo para casa encontra um garoto que insiste em limpar o vidro do seu carro:
- Ô garoto, para com isso, não quero lavagem não.
- Ô doutor, deixa eu ganhar um dinheirinho, eu ainda não comi hoje.
Mas Viriato não dá bola e arranca o carro, no outro semáforo, um vendedor de laranjas tenta em vão oferecer o saco de laranjas a Viriato que também o ignora. A mulher de Viriato, Priscila, estranha ver o marido tão cedo chegando em casa:
- Ué, foi despedido?
- Gracinha você né?
- Eu tento, mas o que houve? Você não é de chegar cedo.
- Acho que terei de vender a firma.
- Eu iria adorar, assim você teria mais tempo para mim.
- Não é tão bom quanto você imagina.
- Não é? Por quê?
- Se eu vender a empresa, tenho que quitar as dívidas que são maiores que o preço desta mansão, se vender com as dívidas, além de eu não receber nada terei que dar uma quantia ao comprador, pois ninguém quer uma empresa falida para administrar.
- E por que isto é um problema para você?
- Nossa, achei que pelo menos você, entenderia?
- Já passamos por dificuldades antes Viriato, aliás, nós sabemos o que é dificuldade, já que chegamos a morar de favor com os nossos tios.
- Nem me lembre disso, até hoje não posso nem vê-los na minha frente.
- O que deu em você Viriato, quando o dinheiro se tornou tudo na sua vida?
- Desde que passamos a depender dos outros para sobreviver, queria que esta época nunca mais voltasse, eu não suportaria.
- Você está iludido, Viriato, dinheiro não traz felicidade.
- É manda buscar.
- Você sabe do que estou falando, adiantou você perder os melhores anos da sua vida nesta empresa e agora ela vai quebrar e você vai ficar sem nada.
- Você está ajudando muito falando assim.
- Você não quer entender, né?
- Se eu ainda pudesse contar com o Flávio.
- O que houve com o Flávio?
- Ele foi contratado pelos canadenses.
- Sério que legal.
- Legal, por quê? Eu que me estrepei nesta brincadeira.
- Ah, eu fico feliz por ele, ele realmente merece esta oportunidade. Mas vamos parar com esta discussão, vá tomar um banho e depois vamos jantar.
Enquanto Viriato toma banho, Priscila digita alguns números rapidamente no telefone:
- Alô, você está pronto?
- Sim, Estou saindo em dez minutos.
- Então a gente se encontra lá.
- Venha logo.
Priscila liga para o tele-taxi enquanto escuta o cantarolar de Viriato no banheiro, veste rapidamente uma roupa, pega uma mala que já estava pronta e vai embora. Quinze minutos depois, Viriato sai do chuveiro e pergunta ao Mordomo Dionísio:
- Cadê a Priscila?
- Dona Priscila saiu, seu Viriato.
- Não disse para onde?
- Não senhor.
Viriato tenta ligar no celular dela, mas para a sua surpresa ele toca embaixo das almofadas do sofá.
No aeroporto:
- Priscila, mas que demora mulher, onde você estava?
- Eu estava tentando despertar o Dalai Lama que existe dentro do Viriato.
- Sei, teve sucesso?
- É claro que não, ele é fechado como uma ostra nas suas opiniões. Sabe Flávio acho que a nossa vida será muito melhor no Canadá.
- Tenha certeza disso, Priscila, ainda mais que fiz um belo caixa enquanto trabalhava com o Viriato, além de fazer a caveira dele para os canadenses, eu ainda disse que o que mantinha a empresa, sem falsa modéstia, era eu, aí fui contratado, não é uma sorte danada.
- Se é.
Moral da história.
O discurso é muito fácil, mas é a ação que determina a índole das pessoas.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Um encontro casual

- Um passarinho me contou que você casou.
- Ah é. E esse passarinho também te falou que me separei.
Carlos era um grande amigo de Selma, há muito tempo não se falavam e se encontraram por acaso numa rua perto da praça, resolveram tomar um suco e aí as memórias os entreteram por muitas horas:
- Nossa nunca imaginei que ficaríamos tanto tempo longe um do outro, éramos tão colados que alguns até diziam que iríamos casar um dia.
- Ora, Carlos a gente não casou porque você não quis.
- Não foi bem assim, tínhamos objetivos opostos, você queria conquistar o mercado de softwares e eu queria trabalhar na televisão, não poderia perder aquela oportunidade de fazer o comercial.
- Mas viu no que deu, você ficou famoso?
- É claro que não, mas continuo tentando.
- Ah é, tá fazendo teatro.
- Exatamente.
- É o protagonista?
- Não sou caboman
- Caboman??
- É, mas temos que começar de baixo.
- Tô sabendo, quem te contou que eu casei.
- O Júlio, lembra dele.
- Claro, o Júlio, figuraça, uma vez ele chegou na faculdade e ficou sabendo que ia ter uma prova, ele não havia estudado nada, então ele pegou o meu caderno deu uma rápida olhada e fez a prova, você acredita que ele tirou dez e eu que havia estudado e freqüentado as aulas tirei seis.
- É o cara era impressionante, então, eu o encontrei numa apresentação da minha peça, ele tava passeando pelo Rio e resolveu ir ao teatro, daí ele me contou que você havia casado. Mas como foi isso, foi tão rápido, eu saí por dois anos e você casou e já se separou.
- Ih cara, nem te conto, fui trabalhar numa loja de softwares e conheci o Danilo, não sei o que me chamou atenção nele, talvez o fato de querer ser ator, então saímos algumas vezes e ele me propôs casamento, de uma hora pra outra.
- Não me diga, que cara estranho.
- Pois é, eu estava estabilizada,ele também, ele já tinha um apartamento, aí achei que não teria nada de mais.
- Mas você estava apaixonada.
- Aí é que tá, acho que não, mas há muito tempo que eu estava sozinha, não queria esperar mais e perto dos trinta, bateu aquele desespero, sabe como é.
- Entendo, mas como e porque durou tão pouco.
- Começou errado, só poderia terminar errado. Na lua de mel, fomos para o nordeste e lá ele encontrou conhecidos do antigo grupo de teatro, dentre as quais uma ex-namorada, coisa que só fui descobrir da pior maneira, começamos a sair junto com o grupo nas baladas e eu estava curtindo eles eram superdivertidos tiramos muitas e fotos, mais alguns meses depois, eu volto para casa mais cedo e dou de cara com a dita cuja no meu sofá em cima do Danilo, enchendo ele de beijos. Dá pra acreditar?
- Pois é, mina, coisas da vida.
- E você o que houve com você nesses dois anos?
- Depois que fui fazer aquele teste, penei muito na cidade maravilhosa, teimosamente tentando ser ator, vez por outra conseguia um dinheiro como figurante, mas nunca nada maior. A globo me chamou para fazer um teste uma vez.
- Não me diga, a editora globo, eu tinha deixado uma ficha para faxineiro lá.
- Mas é bobo mesmo.
- Eu tinha me esquecido, é claro que não apareci, aí conheci o Marcelo que trabalhava neste grupo de teatro e disse que se eu tivesse paciência, quem eu poderia estrelar uma peça, eles são muito unidos e vivem dando oportunidade para os mais jovens.
- É, Carlos, a gente planeja tanto a vida, não é, e nunca sai do jeito que a gente queria.
- Como diria um filósofo: "A vida é escrita em rascunho"
- É verdade, quer uma carona para algum lugar, o meu carro tá aqui há duas quadras.
- Claro, eu tenho que ensaiar agora, esta cidade Rio Negro é muito bonita, mas se eu não estiver lá na peça, ninguém vai ouvir ninguém.
- É eu sei o que é ser necessário, dou consultoria de informática e a maioria dos meus clientes, talvez não conseguissem nem ligar o computador sem a minha ajuda.
E Selma deixa Carlos na porta do teatro:
- Quando nos veremos de novo, Carlos.
- Não sei dizer, esta é a última apresentação nesta cidade, amanhã, vamos levantar a acampamento e ir para Treze Tílias. Mas foi um imenso prazer revê-la.
- O prazer foi meu, quando estiver por aqui, não deixe de me ligar, pegue o meu cartão.
- Obrigado, boa sorte.
- Pra você, também.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Golpe de Mestre

Um policial fazia a sua ronda quando viu um homem armado entrar na rodoviária da cidade, imediatamente guiou sua viatura para lá e avisou pelo rádio a ocorrência e recebeu a promessa de reforço, quando chegou o bandido já havia feito uma refém:
- Parado aí, vagabundo! Você está na minha mira!
- Ah tá, um policial era só o que faltava. De onde você surgiu, cana?
- Larga a refém e prometo que sairá vivo daqui!
- Sei, acredito (com ar de deboche). Não se meta nisso, você não sabe o que está acontecendo, é melhor você não se envolver.
As pessoas obviamente vão se afastando e fazendo uma roda, onde os atores principais desenvolvem os papéis:
- Você tem um nome?
- É Aranha.
- Aranha, o que você quer?
- Eu preciso levá-la.
- E pra onde?
- Eles estão com a minha esposa.
- Quem está com a sua esposa.
- Eles.
Nisso chega o reforço e cercam a rodoviária, os transeuntes, passageiros e curiosos são retirados do local, a imprensa chega quase junto com os policiais, a repórter fala ao vivo:
- Estamos aqui direto da rodoviária da cidade, para informar que acaba de ocorrer um seqüestro, a vítima tem 30 anos, tem dois filhos e marido, ainda não temos o nome da refém, mas temos o nome do seqüestrador, diz que se chama Aranha.
O bandido vê a reportagem na TV da rodoviária:
- Ih caramba, já virou um circo, como devo chamá-lo policial?
- Davi.
- Davi, acabe com isso, ou eu terei que sujar de miolos este chão brilhoso da rodoviária.
Alguém fala pelo comunicador:
- Davi, o que está acontecendo aí dentro?
- Ele disse para vocês irem embora, ou então ele vai cometer uma loucura.
- Que tipo?
- Falou em estourar os miolos da refém.
- Repita, por favor.
- Falou em estourar os miolos da refém.
Diante desta situação o comandante da Polícia Militar diz:
- Afastem todos daqui, tirem esta câmara de televisão, ninguém vai filmar coisa alguma até que tenhamos resolvido o assunto.
Na rodoviária:
- Olha, o negócio é muito simples: essa dona aqui é esposa de um desafeto do vagabundo que seqüestrou a minha mulher, não sei porque cargas d'água ele mesmo não veio fazer o serviço, mas eu não posso sair daqui sem ela, se não minha mulher morre e eu a amo demais para deixar isto acontecer, então eu vou sair daqui de um jeito ou de outro.
- Aranha, nós podemos ajudá-lo.
- Ah é e como se a TV já noticiou o assunto?
No esconderijo dos bandidos:
- Mas este Aranha, isto é o que dar pedir para amadores fazerem serviço de profissionais, por que você mesmo não buscar a Estela, Martins?
- Lúcio, entenda, eu sou um homem visado, não posso ficar fazendo coisas em público assim, tenho que manter o meu anonimato.
- Tá e agora, como vamos trazê-la para cá, o Aranha já ta morto cara, ele nunca vai conseguir sair de lá.
- Se morrer, mando outro, não posso é perder esta oportunidade de ter uma vantagem sobre o Fabrício.
- Olha lá, mais notícias sobre o seqüestro da rodoviária.
A repórter fala:
- Mais cedo do que se imaginou, foi resolvido o seqüestro da rodoviária, Estela Mirtes de Oliveira foi salva e o bandido Glotieb, é isso mesmo, Gotlieb Aranha foi morto no local por um tiro certeiro do policial Davi Silveira.
Lúcio fala:
- Olha lá,perdemos uma grande oportunidade e agora como vamos chegar perto desta mulher?
Alguém bate na porta:
- Quem é?
- É o Aranha.
Martins, responde:
- Aranha, acabamos de ver na TV que você foi morto, como pode?
- Eu já explico, me deixem entrar, por favor.
Ainda com a arma em punho, Martins abre a porta e vê Aranha com Estela ao seu lado:
- Como é que você fez isso?
- Martins, eu trouxe a mercadoria, agora quero a minha esposa.
- É, não posso negar que você é eficiente, tragam a esposa dele.
Lúcio traz a mulher:
- Querido, graças a Deus, você está bem, eu estava o noticiário, temi pelo pior.
- Não se preocupe querida, vamos embora.
- Alto lá, senhor Aranha, você vai me explicar esta história direito, ou ninguém vai sair daqui.
- Certo, quando o policial atirou, eu caí e me fingi de morto, cheguei a sair num carro funerário, quando acordei estava sendo transportado, ouvi pelo rádio que o seqüestro havia sido resolvido e achei que seria a melhor hora para pegar o que vim buscar, rendi o homem do carro funerário e vesti a roupa dele, depois voltei ao local e a peguei no banheiro feminino depois fugi com ela pela janela, satisfeito?
- Muito, você devia repensar a sua vida, meu caro Aranha, você tem a maior vocação para bandido.
- Eu estava motivado, espero nunca mais vê-los.
- Até mais.
Quando Aranha sai pela porta, entra uma tropa de homens fardados e rendem todos os bandidos e libertam a vítima:
- História excelente a que você contou aqui, Aranha.
- Davi, eu precisava salvar a minha, precisava ser criativo.
- Isto não acabou Aranha, eu vou pegar você - Diz Martins
- Eu estarei esperando, imbecil.
Aí o leitor pode se perguntar, mas o que realmente acontecei na rodoviária, eu explicarei:
- Abaixe a arma e vamos conversar Aranha.
- Como saberei se vai me ajudar?
- Eu sou um policial, eu sei quando as pessoas estão mentindo e você está falando a verdade, eu vou abaixar a minha arma e depois você abaixa a sua.
- Tudo bem.
Há uma certa tensão no ar, mas tudo ocorre como o planejado.
- Aranha, vamos fazer o seguinte, vamos plantar uma história para a imprensa, todos verão você sair no carro funerário e depois armaremos uma emboscada para estes bandidos. Temos um acordo.
- Sim, mas o que eu direi a eles, como vou dizer que consegui escapar.
- Isto é com você é a vida da sua esposa que está em risco, pense em alguma coisa.
Como todos viram ele pensou.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Fama

Um repórter foi chamado às pressas para um furo de reportagem. Exatamente no Cristo Redentor, um helicóptero ficou sem combustível por causa de uma sabotagem no tanque. O piloto, numa manobra muito ousada, tentou pousar aos pés do cristo, mas o vento forte desequilibrou a aeronave e ela ficou pendurada por um de seus esquis. Roberto ansiava por uma chance como essas, achava que sua carreira decolaria se conseguisse este furo, foi imediatamente ao Parque Nacional da Tijuca para fazer a sua transmissão ao vivo para ao maior rede de televisão do país, plantões em todo o país captaram a imagem de Roberto que dava sinal para o seu cinegrafista para filmar o acidente iminente, enquanto falava no fundo, o barulho do esqui se partindo foi ouvido por uma multidão de curiosos que estava em visita ao Corcovado, o maior desafio dos bombeiros agora era retirar o piloto e seu passageiro com vida e com todo o cuidado para que a catástrofe não fosse maior. Com um equipamento de rapel um bombeiro resgatou o piloto que logo foi içado para os pés do cristo e sob os olhos atentos da câmara o bombeiro retorna para buscar o passageiro, mas não consegue evitar a morte do mesmo, o helicóptero despenca, o bombeiro dá um impulso na pedra com os pés e evita que as toneladas de aço cortem a sua corda e o levem para o fundo do abismo.
Roberto apesar de atônito com o desfecho, ficou muito feliz com o que documentou, vários órgãos de imprensa do mundo aparecem e foram atrás de Roberto para conseguir a cópia da fita com a reportagem e mostrá-la para o mundo. Finalmente Roberto seria conhecido mundialmente. A família o procurou, os amigos voltaram, as mulheres começaram a aparecer, mas mal sabia ele que esta fama seria passageira. Um mês depois estava trabalhando na maior rede de tv do país. Roberto deixou de ser um repórter de imprensa marrom e passou a ser uma figura conhecida no meio jornalístico. Foi chamado para festas, coquetéis e sempre apresentado como o repórter do Corcovado. E a fama ia durando, mas de repente, um grupo de rock internacional sobe no terraço de um prédio de trinta andares na capital Paulista e ameaça suicídio coletivo. Roberto está numa de suas festas costumeiras quando vê, um plantão e a cobertura da tragédia anunciada, os quatros integrantes se jogam ao mesmo tempo, mas para a sorte dos doidos os bombeiros já haviam armado um colchão de ar, tudo devidamente filmado e contado por um tal Genival Borges e a estrela de Roberto se apagou. Fama é uma ilusão, pois as pessoas anseiam por coisas novas, um único feito não pode direcionar toda a nossa vida

sexta-feira, setembro 15, 2006

Um Conto Futurista

Numa rua movimentada, um motorista estava perdendo a cabeça com o veículo imediatamente a sua frente, a fila de automóveis andava, mas a moça tinha dificuldades em arrancar, quando havia um espaço de três carros a sua frente, aí ela conseguia arrancar, mas os carros da outra fila tomavam a sua frente, e isto deixava Saulo, maluco. Doido para chegar em casa e com mais de uma hora perdida no trânsito, não entendia como o governo não tomava providências para o escoamento das vias, neste momento tinha pensamentos homicidas, coisas como, pegar uma metralhadora de terrorista e furar todo mundo de bala. Mas naquele dia específico, teria uma experiência inesquecível. Como que por encanto, tudo parou, as buzinas, os carros, os insetos no ar, pessoas com a boca aberta para comer um sanduíche, mas com o movimento interrompido antes da ação. Abriu a porta do carro e não entendeu nada, havia um guarda na calçada, correu para conversar com ele, mas o guarda estava imóvel, com a mão erguida e o apito na boca que não produzia nenhum ruído, tentou em vão acordá-lo:
- Sei que está um pouco confuso, senhor Saulo, mas isto era necessário para chamar sua atenção.
Saulo tentava procurar de onde vinha aquela voz, mas apenas via pessoas estáticas, respondeu olhando para o nada:
- Onde está você?
Diante de Saulo, uma luz em forma de espiral, se materializa num homem:
- Estou aqui, senhor Saulo.
- Pode me explicar o que está havendo? Aliás, de onde você veio? O que é tudo isto?
- Uma coisa de cada vez, senhor Saulo, isto que está presenciando, é o congelamento do tempo, um brinquedinho criado no século 28, é baseado na teoria da relatividade, mas não creio que esteja interessado em minúcias, eu vim pedir a sua ajuda.
- A minha ajuda!!! Você consegue congelar o tempo e quer a minha ajuda???? Para quê??
- Bem, como já deve ter notado, não pertenço ao seu planeta, mas ele está em perigo no século 28, e precisamos da sua inteligência superior para nos ajudar.
- Inteligência superior?? Mas eu sequer terminei a faculdade, porque acha que sou tão inteligente?
- Bem, você não sabe ainda, mas será o responsável por uma revolução neste planeta, quando conseguir sintetizar em cápsulas matéria e antimatéria, combustível este capaz de dar um salto de tecnologia na viagem espacial e assim contatar seres como nós.
-Nossa e como sabe tudo isto, aliás, que tipo de ser é você?
- Vocês nos chamam de Andrômedas, mesmo porque o nome de nossa raça, não tem uma palavra equivalente em sua língua.
- Tudo bem, mas pode me dizer como eu sintetizei esta matéria e antimatéria?
- Detalhes eu não sei, mas sei que você era muito impetuoso e gostava de velocidade e interessava-se muito por átomos, por conta disso e alguma sorte da raça humana, você foi descoberto por alguém da Nasa e o resto da história está nos livros do século 28, venha comigo.
- Eu não vou com você, tenho meus compromissos, meu emprego, enfim tenho uma vida, não posso largar tudo e acompanhar um doido que aparece detrás de uma cortina de luz.
- Bem, senhor Saulo, se o senhor quiser ficar, pode ficar, mas vai demorar um pouco para o efeito do raio do congelamento do tempo passar, eu diria que cerca de um dia, é um efeito colateral que o pessoal ainda está trabalhando, se quiser ficar neste mundo parado, enquanto a ação está em outro lugar, tudo bem, você é quem sabe.
- Humm, Um dia, em? Com o mundo parado? Acho que não tenho escolha, né?
- Sábia decisão, senhor Saulo, venha comigo.
Os dois entram num vórtex temporal e em segundos estão no século 28, a Terra é um lugar bem diferente, não há mais fome, não há mais guerras, pelo menos não em terra, naves e ônibus espaciais são construídos no espaço, veículos alados dos mais variados tipos, com hélices e turbinas com designs arrojados, sobrevoam as paisagens áridas do planeta:
- Então, como devo chamá-lo senhor Andrômeda?
- Pode me chamar de Hércules
- Que peculiar!!! Hércules, o que exatamente eu posso fazer por esta civilização avançada?
- Vamos até o Palácio Suspenso do Governo Terrestre, lá você conversará com o Presidente do Planeta.
Logo:
- Senhor Saulo, que prazer imenso em conhecê-lo, sei que devemos muito ao senhor e acho que deveremos ainda mais.
- Senhor Presidente.
- Ah sim, eu me chamo Halo de Vega, uma referência a uma excursão que meus pais fizeram quando do meu nascimento, mas isto não importa, temos um problema senhor Saulo.
- E qual seria este problema?
- Um buraco negro está sugando o nosso sol, olhe pela janela.
A imagem que se vê no céu é: um pequeno pedaço negro ao lado da grande estrela amarela sugando-a para si.
- O que acha que devemos fazer?
- Parece uma bobagem, mas vou perguntar, vocês não poderiam sobreviver sem o sol, no meu tempo talvez fosse inviável, mas vocês têm tanto tecnologia neste século que...
- Pra simplificar senhor Saulo, não, não conseguiríamos viver sem o sol.
- E quanto tempo nós temos?
- Cerca de oito horas até o ciclo se completar.
- E o que acham que posso fazer?
- Segundo nossos livros históricos, senhor Saulo, o senhor só teve uma grande idéia na sua vida que é a cápsula de matéria e antimatéria, por isso nós o trouxemos antes que tivesse a idéia, assim você poderia ter uma idéia brilhante e depois o devolveríamos ao seu tempo sem memória para que você possa ter a idéia da cápsula novamente, não sei se fui claro.
- Entendi, se eu voltar com memória, talvez a minha capacidade criativa esteja reduzida, e vocês não terão tudo o que tem hoje. E se a gente pegasse este abridor de portais temporais que fez você me trazer aqui e levássemos este buraco negro para uma estrela distante.
- Bem, teríamos de nos assegurar que este sistema solar fosse desabitado, mas pode funcionar.
O Presidente Halo alerta:
- Mas isto nunca foi tentado antes, Hércules.
- Eu sei, mas presidente ele é o Saulo D’alva Silva, nós o trouxemos aqui para isto e não temos tanto tempo para discutir isto.
Saulo se manifesta:
- Há dois problemas: o primeiro é como chegar tão perto da estrela sem derreter e o outro como não ser sugado pelo buraco negro.
- Isto você pode deixar comigo.
- Hércules, um só erro de cálculo, e você virar churrasquinho ou ser sugado para sempre. – Diz o presidente.
- Não se preocupe eu vou conseguir, sei muito bem como lidar com cálculos e tempo, procure a estrela e me dê as coordenadas telepaticamente.
- Certo.
Depois, Hércules se encaminha para a estrela, seres como ele não precisam de naves espaciais:
- Está me ouvindo Hércules?
- Sim, prossiga Presidente.
- Achamos a estrela, ela se chama Arcturus, ela fica a aproximadamente 36,7 anos-luz daqui, você a conhece?
- Conheço sim, senhor presidente, é um sistema solar muito bonito, mas por ser desabitado é a melhor escolha.
E com uma precisão britânica, como diriam os terráqueos, Hércules, leva o aparelho que transportará o buraco negro para Arcturus e em fração de segundos o joga dentro do buraco que que ao ser acionado imediatamente leva o buraco negro para Arcturus.
Depois, já no tempo de Saulo, com as pessoas ainda estáticas:
- É uma pena que não possamos mais nos ver Hércules, foi um imenso prazer conhecê-lo.
- O prazer foi meu, senhor Saulo, mas como sabe infelizmente terei que retirar a sua memória.
Segundos depois o buzinaço continua na avenida, Saulo dá um grito:
- Não sabe dirigir, por que saiu de casa?

sexta-feira, setembro 01, 2006

O Misterioso Doutor Tramujas

Uma mulher caminhava pela rua despreocupada, estava chovendo muito. Um carro passa por uma poça d’água e a água é projetada sobre a transeunte, neste momento a moça, que se chamava Beatriz, começou a passar mal, não conseguia respirar, caiu no chão como se tivesse tendo um ataque epilético. O motorista que tinha passado sobre a poça, sem querer é claro, imediatamente pára o carro e vai socorrer a vítima, já tira o celular do bolso e liga para o SIATE, eles chegam em cinco minutos, mas já é tarde, Beatriz acabara de falecer. Noutro canto da cidade Raimundo está no ponto de ônibus, quando uma abelha passa por ele, mas vai embora sem incomodá-lo; logo chega uma senhora que o cumprimenta e logo depois Raimundo começa a ter um ataque, a senhora desesperada liga para emergência, que também chega rapidamente, mas Raimundo também expira. Luiz está num bar tomando uma cachaça, passa uma loira por ele, ele olha e outro indivíduo assobia mexendo com ela, Luiz tem um acesso de terror começa a gritar:
- Tirem-na daqui, tirem-na daqui.
Logo desmaia, a emergência chega, mas desta vez não com tanta presteza, apenas uma hora mais tarde e Luiz falece horas depois.
João Cardoso é um médico residente que tem um amigo chamado Tibério Silva, se conhecem há muito tempo, Tibério é um investigador particular que às vezes pede ajuda ao amigo João sobre questões médicas. Tibério foi contratado para descobrir o que houve com Beatriz, pois ela era a filha de um rico empresário que a preparava para assumir as empresas, ele acha as condições da morte estranhas. Tibério encontra João:
- João, como vai?
- Vou bem, como vai Tibério, o que você me conta?
- Vou precisar da sua ajuda, houve uma morte estranha há dois dias, uma moça chamada Beatriz foi morta ao ser molhada num spray de uma poça d’água.
- Deixa ver se eu entendi, um spray de água matou uma mulher?
- Sim, quero dizer eu acho que sim, por isso preciso de suas ajuda e não é só isso duas outras mortes misteriosas ocorreram em circunstâncias incomuns, quase que ao mesmo tempo.
- E em que posso ajudá-lo, meu amigo?
- Eu gostaria que você analisasse esses cadáveres e me dissesse o que exatamente os matou.
- Isto ainda não foi feito?
- Foi, mas primeiro, eles não me deixam ter acesso a nada e depois quando digo que sou detetive particular, eles riem de mim e dizem para eu procurar homens e mulheres traidores e deixar o serviço da polícia com a polícia.
- Entendo. Vamos fazer o seguinte, eu tenho que almoçar agora, que tal se nos encontrássemos às sete horas no Vaticano Happy Hour.
- Tudo bem.
- Ah sim, só me passe os nomes completos dos mortos assim, vou poder fazer a minha análise.
- Certo.
Na hora combinada:
- E aí João, me conte tudo o que descobriu.
- Cara, é muito estranho, a Beatriz, morreu por afogamento, o Raimundo morreu de ataque anafilático e o Luiz morreu de uma picada de cobra cujo veneno mata em minutos.
- Entendo.
- Até onde sei, uma poça d’água não é capaz de matar uma pessoa, mesmo porque não há água nos pulmões da Beatriz, o Raimundo não era alérgico a picadas de abelha e o pior nem foi picado por uma abelha e não havia nada na corrente sanguínea que pudesse ter suscitado o ataque, como ele poderia ter tido um ataque anafilático, Luiz morreu de uma picada de cobra, as testemunhas garantem que não havia nenhuma cobra no bar, mesmo porque é difícil de se encontrar cobras nas cidades e essa parte é muito difícil de explicar, o veneno foi inoculado como uma picada, mas não há marcas da picada.
- Entendo.
- Com o que estamos lidando?
- Eu ainda não sei, mas tenho uma pista, há uma ligação entre estas pessoas.
- E qual é?
- Um tipo de psicólogo.
- Como assim, é ou não é um psicólogo.
- Tenho que investigar, obrigado pela ajuda amigo.
No consultório do Dr. Tramujas, a secretária Claudiane avisa:
- Dr. Tramujas, o senhor – tapa o telefone e pergunta – Como é mesmo o nome do senhor?
- Tibério Silva.
- O Senhor Tibério Silva está aqui e quer lhe falar.
- Mande-o entrar.
Logo:
- Senhor Tibério.
- Dr. Tramujas.
- Em que posso ajudá-lo, está com vontade de fazer análise?
- Não doutor, longe disso, apenas soube que o senhor tratava certos indivíduos.
- Trato de muita gente.
- Sim, mas estes indivíduos morreram em circunstâncias incomuns e a única ligação entre eles é o senhor, por acaso, não pratica tratamentos alternativos doutor?
- Só quando me são solicitados, tem os nomes das vítimas?
- Sim.
Depois de muita análise e de coçar demoradamente o queixo, Dr. Tramujas diz:
- Eu me lembro desses pacientes, os três tinha fobias, a Beatriz tinha uma fobia de água estávamos fazendo um tratamento em que usávamos uma banheira e ela ficava olhando para a água por quarenta minutos, acredito que com isto ela se acostumaria com a água e veria que não faz sentido este temor.
- Estava dando certo?
- Ela dizia que já conseguia dar banho no sobrinho sem tremer. O Raimundo tinha fobia de abelhas.
- E que tratamento deu a ele?
- Era mais difícil, já que abelha tem ferrão, mas estávamos trabalhando com fotos de abelhas em cima de flores, para mostrar o lado positivo dela. O Luiz tinha medo de cobras, uma coisa estranha para quem mora na cidade. Com ele era bem mais complicado, mas eu tentava demonstrar que é muito saudável ter medo já que é um instinto de sobrevivência. Mais alguma coisa senhor Tibério.
- Sim, o senhor lida com hipnose?
- Sim, quando acho necessário.
- Sua opinião profissional, é de que a sugestão por hipnose pode afetar uma mente perturbada.
- Profissionalmente falando, sim. Tá insinuando que matei aquelas pessoas?
- Não. Você disse isso. Só estou dizendo que pode ter sido incutido em suas cabeças um medo além do normal. Obrigado Doutor Tramujas, o senhor ajudou muito.
Ao sair Claudiane olha fixamente nos olhos de Tibério e diz:
- Você irá para a sua casa e quando se deitar na sua cama, se lembrará de que adora chocolate e irá comprar uma barra em uma banca qualquer, depois disso não se lembrará de nada do que ocorreu nos últimos dois dias, apenas se lembrará de dizer ao pai da moça que as suas conclusões são de morte natural, foi apenas um erro do médico, ela não morreu afogada e sim do coração.
Tibério se balança um pouco e diz:
-Até logo, Claudiane.
- Até, senhor Tibério.
Instantes depois:
- O que acha Doutor Tramujas?
- Fez o que eu pedi?
- Sim.
- Então não seremos mais incomodados. Podemos continuar com as experiências.
Abre-se uma das paredes como se fosse uma porta automática e aparece uma parede de vidro com a visão de uma sala onde dezenas de pessoas estão sentadas com um capacete de realidade virtual.
- Estas cobaias nos ajudarão a criar um homem sem medo, é uma pena que aqueles três tenham fugido, mas já foram substituídos. – Diz isto e aponta para um grupo no fundo da sala com a parede de vidro.
- E o que faremos com o médico?
- Ligue para ele e faça como fez com o detetive, não devemos deixar pontas soltas. Será que devíamos pedir um aumento ao governo?
- Não seria nada mal.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Coisas da vida

Leonardo era um grande empresário no ramo das comunicações, diretor de sua empresa, trabalhava cerca de dezesseis horas por dia para cumprir com todos os seus compromissos. Durante muito tempo foi solteiro, pois não conseguia conciliar o trabalho com a vida pessoal, mas depois foi passando de casamento em casamento; ora, as mulheres não agüentavam tanta dedicação ao trabalho e resquícios de tempo para a família. Num happy hour conheceu Celina:
- Leonardo, deixe eu te apresentar a Celina, Presidente do Grupo Jabor Vieira.
- Como vai, Celina?
- Ouvi muito falar em você, Leonardo.
- É mesmo? Bem ou mal?
- Difícil dizer, dependia da pessoa que falava, você é amado e odiado por muitas pessoas, por causa do seu ramo de negócios.
- Ossos do ofício, minha cara.
Conversaram muito naquela noite e depois houve uma grande lacuna até se encontrarem novamente, o serviço de Leonardo mantinha-se massacrante, tantas reuniões, que às vezes nem sabia que assunto estava resolvendo naquelas salas grandes e frias. Num período de férias que era de quinze dias, isto que já é um milagre no meio empresarial, acabou encontrando Celina numa Praia de Alagoas, A praia da Pajuçara. Estava andando pela calçada quando viu aquela fisionomia conhecida:
- Celina?
- Sim. Respondeu ela confusa, ainda sem conhecer seu interlocutor.
- Leonardo, nos conhecemos num happy hour há uns oito meses.
- Nossa, você realmente é um bom fisionomista.
- Você é a presidente do Grupo Jabor Vieira.
- É, costumava ser.
- Como assim?
- Bem, olhe para este mar.
- O que que tem?
- Eu percebi que eu estava perdendo isto, ao me matar de trabalhar e não aproveitar o fruto do meu trabalho.
- Ta dizendo que se demitiu.
- Não exatamente, eu estou dizendo que, agora tenho mais tempo para mim e consigo delegar algumas funções daquela empresa, mas não sou mais ser presidente, tenho um cargo menor e você, onde trabalha mesmo?
- Na Multicomunicações.
- Hum, propaganda, em? É preciso ser muito criativo. Você está com alguém?
- Não.
- O que acha de tomarmos um café.
A conversa fluiu muito bem, já que passavam pelas mesmas situações no serviço, mas o que Celina enxergava, Leonardo estava longe de imaginar. Trocaram telefones. Leonardo ainda não entendia o ponto de vista de Celina, para ele a empresa era a sua vida, como poderia trocá-la por um pôr-do-sol sem graça no nordeste. Em uma das reuniões em que fazia teve um pensamento agradável em relação à Celina, finda a reunião pegou o telefone e tentou falar com ela:
- Alô, eu gostaria de falar com a Celina.
- Quem deseja?
- É o Leonardo.
- A Celina não trabalha mais com a gente, ela saiu há algumas horas, na verdade foi convidada para trabalhar com turismo em Cancun e está indo para o aeroporto agora.
- Você sabe me dizer o horário do vôo.
- Sim, é o das onze horas.
Leonardo, que tinha mais compromissos neste dia, abandonou tudo e correu para o aeroporto, pois já era 10:20, enquanto dirigia tresloucadamente pelas ruas a secretária liga para Celina:
- Oi Celina, ligou um cara aqui, ele disse que se chamava Leonardo e perguntou o horário do seu vôo.
- Obrigado Rúbia.
Celina pega o celular e liga para a empresa de Leonardo:
- Oi, eu gostaria de falar com o Leonardo.
- Ele está numa reunião, quem deseja falar com ele?
- É a Celina, você sabe se ele vai demorar?
Nisso passa um office-boy e diz:
- O Leonardo não está na reunião.
Cristina tampa a boca do telefone e diz:
- Tem certeza?
- Sim.
- E onde ele está?
- Eu não sei, só sei que vi, ele cantando pneu no estacionamento.
- Obrigado.
Voltando a Celina, Cristina revela a nova informação:
- Nossa, mas onde será que ele foi?
- Não tenho certeza, Celina.
- Você, poderia me passar o celular dele.
- Claro.
Depois, Celina encucada liga para o celular de Leonardo:
- Pronto.
- É o Leonardo.
- Não.
- Ué, será que disquei o número errado.
- Acho que não, senhora, é que o Leonardo acabou de sofrer um acidente e ele está indo para o Hospital Madalena Sofia, quem deseja falar com ele.
- É a Celina, obrigado pelas informações.
Desligando o telefone, Celina fica confusa, não sabe se pega o avião ou se vai ver Leonardo, o que será que ele queria com ela, que valia a pena abandonar uma de suas reuniões e arriscar-se a sofrer um acidente:
- Última chamada para o vôo 88734596 com destino a Cancun da Suzano Airlines, passageiros retardatários, por favor, dirijam-se à aeronave.
Leonardo acorda sem entender o que aconteceu, nem saber onde está, seu irmão preocupado diz:
- Até que enfim, você acordou.
- O que houve?
- Bem, você sofreu um acidente.
- Nossa; agora me lembro, eu estava correndo muito, o celular tocou e eu me desconcentrei, capotei o carro e não me lembro de mais nada.
- Este aqui é o Flávio ele chamou o socorro.
- Flávio muito obrigado, não fosse por você, talvez eu nem tivesse por aqui.
- Já falou para ele. - Dirigindo-se ao irmão de Leonardo.
- Sobre o que?
- Sobre ela.
- Ah sim; deixe-nos a sós, por favor.
- O que houve Manuel?
- Leonardo meu irmão, não quero que fique nervoso, mas aconteceu uma coisa que é difícil de explicar.
- Ah é, e o que foi?
- A Celina esteve aqui.
- Claro a Celina, foi por isso que eu estava dirigindo tão rápido e acabei sofrendo o acidente, estava indo para o aeroporto falar com ela, você disse que ela esteve aqui?
- Sim.
- E onde ela está?
- Ela já foi para Cancun.
- Ela não quis esperar eu acordar?
- Ela esperou quase dois meses.
- Dois meses, quanto tempo eu dormi?
- Você dormiu por dois anos, Leonardo.
- Dois anos, eu não acredito, parece que foi ontem que sofri um acidente.
- É a sensação que se tem, conforme o médico.
- Ela ainda está em Cancun?
- Não sei dizer.
Moral da história:
Mesmo com muita pressa é importante ser cuidadoso no trânsito, aproveitar os momentos é muito importante, pois eles podem nunca mais se repetir.

sexta-feira, agosto 18, 2006

A mão do destino

Gabriela era uma auxiliar de enfermagem, aprendeu no curso que o melhor profissional é aquele que não se envolve emocionalmente com seus pacientes; num hospital, isto nem sempre é fácil; exemplos clássicos: crianças queimadas pelos pais; mulheres que apanham freqüentemente de seus maridos e insistem em dizer que caíram da escada; e tantas e tantas vezes, pessoas com as cabeças abertas pelos mais variados motivos, desde brigas domésticas até assaltos a mão armada. Gabriela achava que estava encarando bem a situação, já tinha dado plantões acima de 30 horas sem perder a razão. Um jovem de 20 anos bateu o carro num poste e entrou em coma, ele foi parar na ala de Gabriela, o médico estava pessimista, dizia ele que o garoto deveria ficar pelo menos cinco meses naquele estado, só depois disso e que poderiam dizer se ele sobreviveria ou não. O que foi peculiar é que ninguém vinha visitar o Glauco, este era o nome do rapaz, e Gabriela estava num duelo mental. Deveria ou não se envolver neste problema, mas já era tarde, já estava envolvida, começou a perguntar como ia o rapaz, como era um hospital público não havia problemas com despesas, mas com certeza ele não era um dos pacientes mais bem tratados por lá, a não ser por Gabriela que conversava com ele e lhe contava histórias sobre grandes homens que conseguiram atravessar dificuldades e conquistar seus objetivos: como Martin Luther King Jr.; Muhammad Ali; Nelson Mandela; Abraham Lincoln, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e por aí vai. Passaram-se alguns meses e findo o prazo estipulado pelos médicos, Gabriela foi a primeira a estar na sala do Dr. Flávio:
- E então Doutor, ele vai sobreviver?
- Quem?
- Ora, quem, o Glauco é claro.
- Ah sim, vai sim, é possível que ele acorde hoje mesmo.
O Coração de Gabriela quase lhe salta pela boca de tanta felicidade, foi direto ao quarto contar a novidade a seu paciente mais querido, mas qual não foi a sua surpresa que ao chegar no quarto, ele já não estava mais, aflita, perguntou ao zelador:
- Seu Amarante, você viu para onde levaram o Glauco?
- Ah, aquele gringo?
- Gringo, como assim?
- Bem, ele acordou agora pouco e começou a falar inglês, pelo menos eu acho que era inglês, o pessoal disse que ele estava bem, aí ele foi liberado.
- Liberado, mas ele acabou de acordar de um coma, quem o liberou?
- O Dr. Júlio.
Segundos depois:
- Doutor Júlio o senhor liberou o Glauco?
- Liberei sim, achei que ele estava em coma, mas na verdade ele só estava catatônico, como as funções dele estavam boas, não havia porque o segurar aqui, pra dizer a verdade é a primeira vez que vejo alguém ficar catatônico por tanto tempo.
- Ele realmente fala inglês?
- Sim, fala, ele é de Nova York, estava aqui de passagem, alugou um carro, não conhecia ninguém, por isso ninguém veio procurá-lo e aí acabou aqui por seu descuido e pela estranha doença dele.
- Minha nossa e ele perguntou de mim?
- Na verdade, perguntou sim, disse que enquanto estava catatônico ouviu uma mulher que parecia um anjo, lhe contar histórias, disse que nunca a havia visto antes, mas o problema é que ele não entendia o que você falava, sabe como é, ele é americano, fala muito pouco o português.
- Ele deixou o telefone?
- Você fala inglês?
- Um pouco.
- É, ele deixou sim.
Logo:
- Alô, eu quero falar com o Glauco.
- What?
- Ai, esqueci, I want to speak with Glauco (Eu quero falar com o Glauco).
- Yes. I am Glauco (Sim, Eu sou o Glauco).
- Sorry, but I not speak English very well (Lamento, mas não sei falar o ingles muito bem.).
- You are the nurse? (Você é a enfermeira?)
- O que?
- You take care of me, told me many stories. (Você cuidou de mim, me contou muitas estórias)
- Yes, more or less, when and how I can find you. (Sim, mais ou menos, quando e como posso encontrar você?)
- Well, you are free to a dinner. (Bem, você está livre para um jantar?)
- Sure, when? (Claro, quando?)
- Tonight. (Hoje à noite.)
- Where? (Onde?)
- You choose. (Você escolhe.)
- You know the Restaurante Sírio Libanês? (Você conhece o Restaurante Sírio Libanês?)
- Sure, at 8:00 p.m. (Claro, que tal às oito da noite)
- Perfect. (Perfeito.)
De início, foi muito difícil à comunicação, como puderam notar, mas o amor é universal e logo transpuseram esta barreira, Gabriela largou o hospital, foi viver em Nova York com Glauco, que era roteirista, com alguns espetáculos em cartaz na Brodway. Lá, Gabriela conheceu o mundo do teatro e se apaixonou, começou a dirigir peças e hoje, são conhecidos como "THE SUCESS COUPLE" (O CASAL SUCESSO).

terça-feira, agosto 15, 2006

O caminho da luz

Pierre era um motorista de funerária, por anos dirigiu o rabecão, sempre teve a sensação de que o morto poderia levantar e conversar com ele, mas depois de um tempo parou de pensar nisso e acabou por se acostumar com o serviço. Um dia estava transportando outro infeliz e voltou a ter aquela sensação de principiante, tentou pensar em outra coisa, mas não conseguiu e de repente o morto se levanta e diz:
- Pierre.
Como não poderia deixar de ser, Pierre se assusta e quase bate o carro, depois olha para trás e vê o morto sentado:
- Pierre, você precisa me ajudar!!
- C-C-C-o-o-omo e-e-eu po-po-posso ajudá-lo???
- Pierre eu tenho que sair daqui e você precisa vir comigo.
- Como eu vou com você; está morto e sua família está lá esperando você para enterrá-lo.
- Não Pierre, temos que ir para o centro da cidade.
Disse isto se levantou e saiu do carro fúnebre e começou a caminhar. Pierre ainda embasbacado com a situação disse:
- Não é melhor irmos de carro.
- Claro que sim, mas achei que não queria me ajudar.
- Querer mesmo, eu não quero, mas quero ver onde isto vai dar, nunca presenciei uma situação com esta e gostaria de tentar entender.
- Não há nada para entender Pierre, apenas faça o que eu digo e tudo ficará bem.
Mais tarde no centro da cidade o ex-morto que se chamava Rafael diz:
- É aqui nesta Praça, a Praça Presidencial. Agora Pierre você deve dizer.
- Dizer o que Rafael???
- Você sabe, está caminhando na sua mente, Diga de uma vez!!!
- Tudo bem, o que está na minha cabeça são está palavras "Aqui está ele o Rafael, ele veio encontrar a luz".
Diante dos olhos dos dois, uma estátua de bronze de um homem sentado em um cavalo começa a se iluminar e se abre, Rafael se encaminha para a estátua entra na luz e a estátua se fecha. Nesse momento Pierre coça os olhos e para a sua surpresa o carro funerário continua com o morto no caixão e seu celular está tocando, ele atende:
- Oi, é o Pierre.
- Pierre, onde você está, é o Roberto, você já devia estar no cemitério, a família do Rafael não pára de me ligar.
- Eu, eu estou no centro da cidade.
- O que você, está fazendo aí, se perdeu, depois de tanto tempo, não sabe mais o caminho do cemitério.
- É Roberto, eu me perdi, acho que estou cansado, talvez esteja na hora de eu tirar umas férias.
- Faça o que fizer, venha agora para o cemitério, senão eu vou ter problemas com a família do morto.
- Tudo bem, estou indo.
Meia hora, mais tarde, todos dizem em coro:
- Nossa, até que enfim.
Depois, a mãe do Rafael, chega ao motorista e com uma voz quase inaudível diz:
- Obrigada pela ajuda, senhor.

sexta-feira, agosto 11, 2006

LIMITE DA SANIDADE

Sabe aquela paixão avassaladora que faz você caminhar nas nuvens quando está perto do ser amado e se sentir a coisa mais nojenta e insignificante quando não está. Pois é, isto estava acontecendo com Rosário:
- Ô meu bem, como vai?
- Que meu bem o que, onde você estava seu safado?
- Rosário, o que houve? Estou chegando agora e você já me recebe com quatro pedras na mão o que foi que eu fiz agora?
- Sabe quantas vezes eu tentei ligar para o seu celular?
- Não, mais tenho certeza que você vai me dizer.
- 32, Plínio, 32 e é sempre a mesma resposta, caixa postal, caixa postal.
- Por que você não me atende quando eu ligo? Estava com a outra, né?
- Que outra, mulher, eu estava em reunião no escritório, você sabe que eu não posso atender o telefone no meio da reunião, é no mínimo fora de propósito.
- Sei que tipo de reunião você anda fazendo.
Plínio abraça Rosário por trás e diz:
- Vamos parar com essa discussão meu amor, não foi para isso que eu vim para a sua casa.
- Eu sei Plínio, é que eu me sinto insegura quando não estou com você, tenho necessidade física de estar ao seu lado, acho que me suicidaria se você fosse embora.
Plínio olha para ela, um pouco assustado. Alguns dias depois, a situação se repete:
- Plínio, onde você estava?
- Como sempre trabalhando, Rosário. Será que você gosta de homem vagabundo que não precisa ir para o serviço, toda vez que venho na sua casa você vem com esta história de onde você estava, quer me ligar o dia todo, me perseguindo como se fosse um perdigueiro e tentando descobrir o que só existe na sua cabeça. Sabe, deste jeito não dá pra continuar, a nossa relação não tem mais razão de ser.
Rosário dá um grito, ensurdecedor:
- NNNNNNNNÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO,você não pode me abandonar, o que eu vou fazer sem você, você é a razão da minha vida, eu sei que sou ciumenta, mas eu morro de medo que você vá embora e que a minha vida volte a ser vazia sem amor, sem esperança e sem expectativa, se você for embora, eu vou me matar.
- Rosário, FUI.
Ela se agarra nos pés de Plínio e é arrastada até a porta, toda chorosa, ele se desvencilha dela e vai embora. Algumas horas depois o jornal, dá uma notícia extraordinária:
- Estamos aqui direto do Edifício Melbourne, onde uma mulher ameaça pular para a morte, caso o seu namorado Plínio não venha socorrê-la, o Edifício tem 25 andares, seria uma queda muito dolorosa, voltamos a qualquer momento com o Plantão do Jornal Abre Alas.
Exatamente quando termina a reportagem, Plínio chega em casa e liga a TV, e o filme Noiva em Fuga volta a ser apresentado.
Um bombeiro chamado Matos está a caminho do local da anunciada tragédia, ainda sem saber exatamente o que vai fazer ele parece muito tenso, já enfrentou fogo, enchentes e até testes de sobrevivência, mas é a primeira vez que terá que convencer alguém a não se matar, este, que é considerado entre os bombeiros, o momento limite entre a sanidade e a insanidade. Quando Matos chega ao local, a equipe de reportagem corre para falar com ele, mas ele se esquiva, logo depois ele está no terraço do prédio olhando para Rosário em cima do parapeito de frente para a rua e gritando o nome de Plínio, Matos tenta puxar assunto:
- É por causa dele que você quer se matar?
Ela se assusta, quase cai, mas consegue se equilibrar:
- Quem é você, cadê o Plínio?
- Não creio que ele virá, como é mesmo o seu nome?
- Que diferença faz, daqui a pouco será apenas um nome numa lápide.
- Mas você não deveria estar fazendo isso.
- Ah é, e por que não? Se você conseguir me dar uma resposta satisfatória, eu desisto de pular.
- Você não tem pais, filhos, irmãos parentes?
Ela dá uma risada e diz:
- Meus pais, ah meus pais, só me botaram no mundo e acharam que tinha feito muito, sumiram e nem sei onde andam, irmãos só aparecem quando precisam de dinheiro e na hora de pagar somem, filhos não tenho ainda.
- Boa resposta, ainda, porque ainda os terá.
Nisso, o plantão do Jornal Abre Alas volta a noticiar:
- Estamos aqui no Edifício Melbourne, onde ainda não foi solucionado o problema da suicida, mas já temos o nome da infeliz, ela se chama Rosário Rodrigues.
Plínio salta da cadeira e tenta ligar para Rosário, O bombeiro está muito perto dela e o celular dela toca, ela se assusta, se desequilibra e cai, o bombeiro num ato reflexo segura a sua mão e ela fica pendurada, com os transeuntes lá embaixo na rua fazendo um OOOOHHHHHH, o celular cai e se espatifa no chão, tudo devidamente coberto pelo jornal local, o bombeiro pergunta:
- Você ainda quer viver?
- Não tenho certeza, ainda espero aquela resposta.
- Rosário, você está fazendo isto por amor, não é?
- Sim.
- Então, o mundo precisa aprender a amar incondicionalmente como você.
- Era a resposta que eu estava procurando.
Neste momento chegam os outros bombeiros, a puxam e salvam do perigo, logo depois no hall do hotel a reportagem tenta chegar até Rosário, mas ela diz que não quer falar com a imprensa e Plínio aparece na entrada do Edifício, ela corre para ele e o abraça, ele diz:
- Nunca mais faça isso!
Ela diz:
- Nunca mais me abandone!

segunda-feira, agosto 07, 2006

O Banco

Rui andava atordoado. Todos os dias, ficava imaginando como fazer mágica com o salário minguado para chegar ao fim do mês. Já havia feito vários empréstimos, o que diminuiu muito o seu poder de compra.
Um dia, se achou o homem mais sortudo do mundo; recebeu um telefonema no seu celular de um tal Ricardo que procurava um sujeito chamado Silas, como não conhecia, descartou-o dizendo que não conhecia nenhum Silas, neste momento teve uma ideia, poderia jogar no bicho aquela primeira milhar do celular 9934, era a cobra nunca tinha ganho no bicho, mas ele gostava muito de jogar na cobra, foi na casa lotérica e fez o jogo, as duas da tarde buscou o resultado e viu que havia ganho, a milhar deu na cabeça, ele ganhou 3 mil reais, o suficiente para resolver o problema do cheque especial, não perdeu tempo foi direto ao Banco Siríaco. Chegando lá havia uma fila quilométrica, mas para quem tinha tido tanta sorte no jogo, aquela fila não era nada.
Esperou cerca de duas horas, quando estava prestes a ser chamado notou um burburinho, que vinha da porta giratória; quando olhou não acreditou, dois homens encapuzados e armados com fuzis entraram no banco e gritaram:
- Isto é um assalto, todos para o chão agora!!!!
E começaram a pegar todos os pertences dos clientes. Rui estupefato, sequer se lembrou de esconder o dinheiro que estava bem a mostra em suas mãos, em apenas 3 minutos, os bandidos limparam os caixas e os clientes e foram embora com a polícia no seus encalços; chegando em cima da hora, mas não evitando a tragédia de Rui.
Perto das cinco da tarde, Rui, já desanimado, recebe um telefonema da esposa:
- Oi, Rui, onde você andou o dia todo, estou ligando pro seu trabalho direto, mas parece que você não apareceu lá!!
- Oi querida! É, eu não fui trabalhar mesmo, tive que visitar uns clientes, mas agora estou indo pra lá para despachar uns papéis e logo estarei, em casa.
- Tudo bem, eu tenho uma novidade boa pra você.
- Eu bem mereço uma novidade boa hoje, o que é??
- Você foi chamado para trabalhar na Petrobrás, lembra aquele concurso que você fez há dois anos??
- Sim, claro.
- Pois é; finalmente chamaram você, Rui! Não é ótimo???
- É claro que sim, querida, eu estava prestes a te contar uma história triste, mas deixa pra lá, hoje é dia de comemorar!!!
A vida, às vezes, não parece justa, mas Deus sempre cuida muito bem de seus filhos.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Escrever é um desafio

Tão difícil quanto escrever é se fazer entender, ora, clareza é o que todo professor de redação cobra. Em uma oportunidade tivesse acesso a uma redação na qual o tema era meio ambiente além de pérolas como a frase a seguir: "Não devemos cuidar apenas do meio ambiente, mas do ambiente inteiro"; o sujeito fugiu completamente do tema dizendo: "Se houvesse vida extraterrena, o conceito de miss universo seria muito mais amplo". Algumas vezes o que escrevemos não fica claro e os profissionais da palavra sabem disso, por isso o esmero ao escrever e ao falar deve ser primordial. Quantas vezes, caro leitor, você não foi enganado pela notícia ou tolhido pela explicação pouco compreensível dos fatos. Uma vez vi num jornal da capital a notícia "Xuxa desapareceu" mais tarde descobri que xuxa era uma cadela de um morador da região metropolitana, isto tira a credibilidade dos meios de comunicação. Falando nisso, o que dizer das nossas novelas, em que nada mais é proibido, os traidores voltam a viver romances com os traídos, os jovens cada vez mais perdidos e a religião que só é lembrada na hora do casamento, os padres já não tem tanta importância na trama, as outras religiões sequer são mencionadas, quando há um religioso, geralmente tem um vida dupla de degradação e o pior, não existem mais heróis, são todos canalhas, sem-vergonhas, imorais, numa falta de respeito sem tamanho, além dos nus, que de artísticos não têm nada. Por outro lado os diretores de filmes parecem que aprenderam com os erros do passado e tornaram suas estórias mais interessantes, filmes como "Deus é Brasileiro", "E se eu fosse você" "Central do Brasil" que não são nada apelativos e ainda têm boas estórias, com alguma reserva cito o "O homem que copiava" que apesar de um texto interessante tem um final desaconselhável para quem quer seguir uma vida regrada. Para fechar o assunto, digo, cuidado com o que você escreve, pode ser um evangelho aos seus olhos, mas para outro pode ser uma afronta.

segunda-feira, julho 17, 2006

A POLÍTICA BRASILEIRA

Vem eleição, vai eleição e a situação do Brasil, pouco muda. Evidentemente, houve um salto de qualidade em relação aos anos da ditadura, ou aos anos do Collor, mas ainda há muito o que crescer. Hoje o Brasil paga pelos erros do passado, quem se lembra do José Sarney (substituto do messiânico Tancredo Neves) que declarou a moratória em 1987 e que com isso condenou o Brasil um crescimento pífio, mesmo com todas as contas em dia, inflação controlada e superavit primário astronômico. Um dos grandes problemas do Brasil em relação a política é que não aparece gente nova, são sempre os mesmos coronéis e generais que mandam no país, fazem conchavos e criam mamatas, com a características peculiares dos brasileiros: muita criatividade; é só lembrar: anões do orçamento, pasta cor-de-rosa, painel eletrônico, mensalão, Valerioduto, PC Farias, Lalau e por aí vai. Sempre há um nome novo e um esquema novo.
Muitas pessoas, acham que o voto pode mudar tudo isto, mas a verdade é que não pode, simplesmente porque metade da população eleitora é analfabeto funcional ou de fato e por incrível que pareça, muita gente ainda vende voto: por comida, por água, por showmícios, roupas etc. O único jeito mesmo é uma educação de qualidade hoje, para que os nossos netos escolham pessoas decentes e aprendam que levar vantagem em tudo individualmente pode ocasionar problemas comunitários. É difícil escolher quando a oposição é do mesmo quilate que a situação. Nós como brasileiros temos a esperança que algum dia surja um salvador da pátria que terá todas as respostas aos nossos anseios, que será um grande líder, suas decisões beneficiarão a grande maioria do povo, no seu governo não haverá corrupção e o Brasil será respeitado no cenário internacional, como um país que emergiu do terceiro para o primeiro mundo. Mas isto é uma grande utopia, o Brasil só poderá melhorar com ajuda de todos os brasileiros que são naturalmente omissos e sempre dizem: Isto não é problema meu, o governo que resolva. Com individualismo e sem senso de nacionalidade o Brasil vai penar muito antes de ser um grande país.

segunda-feira, julho 03, 2006

Falando em Futebol

Seleção Brasileira, ao contrário do que todos pensam o Brasil não fez fiasco nesta Copa do Mundo, O fiasco mesmo foi em 66, com a eliminação na primeira fase ou em 90 quando perdeu nas oitavas, com um esquema de jogo pra lá de tosco. Desde a era Telê que não torço para o Brasil com a mesma força que torcia porque o futebol virou um grande negócio, os jogadores estão mais preocupados em fechar contratos, fazer propagandas e aumentar o seu capital para conseguir a sua independência financeira, do que preocupado com as cores do time ou da seleção que representa, eles nem choram mais quando perdem, bola pra frente e cada um vai pra sua casa que nem é mais no Brasil,a seleçãO Brasileira foi vendida para a Nike e a Nike diz quem vai jogar e quem não vai, os técnicos, meros reféns do cartel, pouco podem fazer para mudar este panorama, mas o que fazer se a instituição mais poderosa do Brasil, a rede Globo denunciou a corrupção na CBF, com provas irrefutáveis de enriquecimento ilícito, desvio de verbas e empresas fantasmas e os mesmo sujeitos ainda comandam o futebol no nosso país. Ora, não falta competência dos jogadores, falta é compromisso com o povo. Uma coisa tão importante como o futebol jamais deveria estar nas mãos de uma entidade privada que só defende os próprios interesses, ou seja, o governo deveria criar mecanismos para evitar a corrupção e o enriquecimento ilícito nesta instituição e assim beneficiar os clubes e o povo em geral, enquanto isto não ocorrer, ficaremos reféns de uns poucos, torcendo para que os interesses sejam os mesmos, para aí sim comemorarmos títulos.

quarta-feira, junho 21, 2006

A bruxa

Havia uma mulher chamada Zuleide, ela tinha um cachorro, o balofo, pois bem, Zuleide não era tão cuidadosa com o cachorro, deixava-o solto, o que lhe dava muitas dores de cabeça e reclamações dos vizinhos:
- Dona Zuleide, este seu cachorro, tá me deixando louco, ele já matou a minha grama de tanto correr de lá pra cá, vive rasgando as minhas roupas no varal, a senhora tem que tomar uma providência.
- Olha, Seo Alaor, eu até queria fazer alguma coisa, mas ele é muito forte, eu não consigo amarrá-lo, é difícil para mim.
Algumas semanas mais tarde, Seo Alaor juntou uma pequena comitiva e foram à casa de Dona Zuleide para resolver o problema do cachorro, depois de muito deliberarem chegaram a uma conclusão bastante óbvia, o cachorro devia sair do bairro, como não havia quem se interessasse em ficar com ele e depois de muitas tentativas de doações sem êxito, resolveram sacrificar o cachorro, com aval da dona, é claro. Um corajoso senhor se ofereceu para fazer o serviço. Ele pegou o cachorro pela coleira e o levou a um matagal, onde logo mais se ouviu um tiro que ecoou pela vizinhança.
No dia seguinte, a filha de Zuleide, Marlene acorda e se assusta ao ver algo inusitado:
- Mãe, acorda, mãe!!
- Ahn, que foi minha filha, que horas são?
- São seis horas, mãe.
- Ah, então me chama às sete.
- Mãe, levanta que eu acho que vi o fantasma do balofo.
- Tá louca, menina, você não ouviu o tiro? O vizinho matou o cachorro.
- Mas mãe, ele tá ali na porta.
- Ai meu Deus, já ouvi dizer que viram fantasmas de pessoas mortas, mas de cachorro é a primeira vez.
Mas, qual não foi a surpresa de Zuleide ao se deparar com o balofo, sentado na escada da porta, lambendo a própria pata, e ao contrário do que se imaginava, ele estava vivo até tocaram nele para ter certeza. Depois disso, Zuleide, ficou conhecida como a bruxa que ressuscitou o cachorro, a vizinhança começou a desviar o caminho que passava em frente a sua casa.
O leitor deve pensar:
- Mas aí é sacanagem, será que esse escritor, nao vai dizer o que aconteceu para esse cachorro estar vivo???
Relaxa leitor, desta vez tem uma explicação plausível. O encarregado de assassinar o cachorro apareceu semanas depois na casa de Zuleide para explicar o ocorrido:
- Dona Zuleide, eu não pude matá-lo, ele ficou me olhando, quase me implorando pela vida, aí eu dei um tiro na árvore, para que todos achassem que eu o havia matado, eles estavam com muita raiva do cachorro, não iriam entender o meu dilema. A senhora não conta isto para ninguém.
- Pode deixar, isto será o nosso segredo.

terça-feira, maio 30, 2006

O caso do colchão

Como todos os seres humanos normais e urbanos, Fabíola precisou trocar o seu colchão e foi até a loja famosa por dar descontos e ótimas formas de pagamento, a ELOS DOURADOS. Encontrou o vendedor que se chamava Tobias:
- Pois, não.
- Olá, Tobias, não é? (viu em seu crachá)
- Sim, e você?
- Ahn Fabíola, eu vim comprar um colchão.
- Certo, venha comigo. Eu tenho todas as variedades, desde o de molas até os de espuma simples.
- Sim, eu quero este colchão que eu vi no encarte.
- Claro, já vi que a moça tem bom gosto. Este colchão é um dos nossos melhores, infelizmente não temos deste colchão na loja, mas temos no depósito e mandaremos entregar assim que possível. Enquanto isso, quer ver mais alguma coisa.
- Sim, também quero um jogo de quarto.
Depois de muito olhar, conversar consigo mesmo e fazer algumas contas quanto as prestações, Fabíola fechou negócio com Tobias:
- Quando o Senhor manda entregar para mim?
- Acredito que neste sábado deve estar chegando na sua casa.
- Ótimo, que horário?
- Entre 10:00 e 14:00 horas.
Fabíola passou a semana totalmente despreocupada e quando chegou o dia da entrega, esperou em casa, enquanto realizava alguns afazeres domésticos, como não chegava a encomenda no horário marcado, começou a preocupar-se, mas apenas meia hora depois o caminhão de entrega estava na sua casa.
- Senhora Fabíola?
- Apenas Fabíola, por favor.
- A senhora encomendou um jogo de quarto, não foi?
- Exatamente.
Mas para surpresa de Fabíola o colchão não fazia parte da entrega:
- Agora só falta o colchão.
- Bem, Fabíola, não enviaram nenhum colchão para senhora.
- Como é que não.
- Esta é a nossa última entrega, não tem mais nada no caminhão, é melhor a senhora ligar para a loja na segunda-feira.
Fabíola, não se mostrou tão preocupada, quanto a situação exigia e calmamente esperou o momento certo de ligar para o gerente da loja na segunda.
- Elo Dourado, Patrícia, bom dia.
- Bom dia Patrícia, o meu nome é Fabíola, eu estive loja de vocês terça-feira passada e comprei um jogo de quarto, mas na hora da entrega, o meu colchão não veio junto com o restante das mercadorias, gostaria de saber o que houve.
- A senhora lembra o nome do vendedor.
- Não me lembro infelizmente.
- Certo, eu vou passar a senhora para o gerente Marcos.
- Tudo bem.
- Marcos, Bom dia.
- Bom dia, Marcos, o senhor já está a par da minha situação.
- Sim, Dona Fabíola, ocorre que infelizmente, não temos este modelo de colchão no nosso estoque, tivemos um problema com a fábrica, que não entregou em tempo hábil, mas eu prometo para a senhora que tão logo resolvamos o caso, enviaremos o colchão ao seu endereço.
- E isto se resume à quantos dias?
- Ah no máximo até o próximo final de semana.
- Tudo bem, obrigado Marcos, então sábado que vem, o colchão está lá em casa.
- Com toda certeza, pode contar com isso.
Passada uma semana, o colchão não veio e novamente Fabíola se viu obrigada a ligar para a loja, desta vez falando com outro Gerente:
- Tem certeza, Dona Fabíola, ainda não entregaram o colchão para a senhora, mas que absurdo. Eu vou ligar agora mesmo para o estoque e verificar o que está havendo.
- Tudo bem, eu espero a sua ligação.
Logo:
- Dona Fabíola, aconteceu o seguinte o seu colchão é um tipo específico que ainda não temos em estoque, o imbróglio, com a fábrica ainda não foi resolvido.
E isto se perdurou por longos dois meses, com ligações semanais e até diárias, sempre trocando os nomes dos gerentes, mas as respostas sendo sempre as mesmas até que:
- Dona Fabíola, a senhora não acha melhor trocar por outro colchão, nós daremos um vale da loja, caso o valor seja menor.
- Não, não aceito. Eu quero o meu colchão, eu comprei aquele colchão e vocês vão me entregar aquele colchão, e olha minha paciência já se esgotou, meu primeiro cheque já vai cair e eu continuo dormindo no chão, se vocês não resolverem isto esta semana, eu vou na defesa do consumidor e se não resolver, eu vou para a imprensa, estou cansada de ser enrolada por vocês.
- Calma, dona Fabíola, também não é assim, a senhora sabe que temos feito o possível pa...
- O possível, o senhor acha normal que eu tenha que esperar dois meses para receber uma mercadoria, se eu soubesse que a sua loja era desse jeito, jamais teria comprado com vocês, olha que eu susto estes cheques e aí eu quero ver como fica.
- Tudo bem, dona Fabíola, acabei de receber uma boa notícia, o imbróglio com a fábrica foi resolvido e esta tarde, seu colchão será entregue.
- Esta tarde, mas não tem ninguém em casa.
- Alguém não pode receber pela senhora.
- Não, não pode, vocês não podem agendar outro dia.
- Quando a senhora vai poder estar em casa.
- Só no sábado.
- Ih, Dona Fabíola, então só vou poder entregar para a senhora daqui a 15 dias.
- 15 dias, você tá louco, mas 15 dias dormindo no chão, eu devo ter cara de palhaça.
- Veja bem, eu posso entregar para senhora amanhã, mas a senhora não pode receber, ou a senhora pode vir buscar aqui.
- E como é que eu vou carregar este colchão no meu carro.
- É vai ser difícil.
- Tá tudo bem, eu espero os quinze dias.
- Foi um prazer negociar com a senhora.
- Prazer é o cacete, você só faça o favor de entregar meu colchão no dia especificado.

E finalmente depois de longos três meses o colchão encontrou a sua fôrma na cama de Fabíola.